Nove anos após um Centro de Tradições Gaúchas ser incendiado porque iria receber um casamento gay em Santana do Livramento, um casal de prendas vai quebrar um padrão: participar da formatura de um curso de danças de fandango, no próximo domingo (18), no CTG Carreteiros da Saudade, de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Durante três meses, a estudante de educação física Maria Eduarda Pellisoli Teixeira, 21 anos, participou das aulas com a namorada Morgana Eduarda de Souza Sanchez Nobre, de 17 anos. Juntas, apreenderam ritmos como vanera, xote, bugio e chamamé. Tradicionais em bailes gauchescos.
“A patronagem do CTG conversou com a gente e explicou que ‘mataria no peito’ caso houvesse alguma bronca de estarmos rompendo com uma tradição. Disse, inclusive, que, se houvesse qualquer atitude de desrespeito, nós deveríamos avisar porque ele tomaria providências. Mas fomos tratadas super bem por todos”, afirma Maria Eduarda, dona de dois cavalos.
A orientação que receberam, segundo Maria Eduarda, é que deveriam ser portar como qualquer outro casal, o que inclui não usar chapéu e nem ficar se abraçando dentro do CTG. Duas regras da entidade. Durante as aulas, ela diz que faz o ‘papel da prenda’, e a namorada Morgana, do peão, inclusive com uso da pilcha, traje tradicional da cultura gaúcha que inclui bombacha, bota, camisa e lenço para os homens.
“Queremos ajudar a abrir portas para outras pessoas que talvez queiram fazer o curso e não tem coragem por causa dessa tradição de não considerar isso normal. Mas é normal”, afirma a dançarina.
Morgana diz que o convite para assistir a primeira aula do curso partiu da cunhada, irmã da Maria Eduarda, que decidiu entrar para o curso. No começo, as duas temiam o preconceito, mas acabaram sendo bem recebidas por todos e resolveram também aprender a dançar.
“Os professores brincam, interagem com a gente, como qualquer outro casal, que é o que realmente somos. Foi tudo muito tranquilo”, ela diz.
O patrão do CTG Carreteiros da Saudade, Neri Fachin, afirma que a entidade é inclusiva, onde todos são “bem vindos e sempre bem recepcionados”, independente de credo, raça ou orientação sexual.
Fonte: G1RS