No último sábado (24), uma ligação incomum ao 190 chamou a atenção do soldado Vilson Kazinski Verçosa, em Tramandaí, no Litoral Norte. Do outro lado da linha, uma mulher com a voz angustiada insistia em pedir pizza à central de atendimento da Brigada Militar. Graças à sensibilidade do policial, ela foi salva de uma situação de violência doméstica.
O caso é um exemplo que merece ser contado e recontado, de um profissional que soube ouvir e se colocar no lugar de quem pedia socorro – nesse caso, uma mulher que era perseguida pelo agressor e não podia mencionar a ameaça em voz alta, por medo das consequências que o ato pudesse provocar.
Passava da meia-noite quando o telefone da BM em Tramandaí tocou. O soldado Kazinski atendeu e ouviu o pedido inusitado com atenção.
— A mulher que ligou disse: “Eu quero uma pizza de calabresa”. Achei estranho e, inicialmente, respondi explicando que devia ser um engano, que era do 190. Mas ela insistiu, repetiu o pedido várias vezes e foi ficando alterada. Aí pensei: pode ser um caso de violência doméstica. Já atuei na Patrulha Maria da Penha e sei como às vezes é difícil para a mulher denunciar o agressor — conta Kazinski.
O soldado então pediu para a vítima dar o endereço. Ela disse apenas que estava fora de casa, caminhando, e informou o nome de uma rua. De imediato, o policial pediu a uma equipe da BM que fosse até o local, mesmo sem saber ao certo onde a mulher se encontrava. Minutos depois, a filha da vítima também ligou ao 190, explicando que mãe corria risco e indicando a localização com maior precisão. O atendimento foi ágil e cirúrgico.
Quando os policiais chegaram nas proximidades da casa da vítima, encontraram a mulher e o companheiro dela. Ela contou ter sido agredida com socos, chutes e puxões de cabelo e foi levada para atendimento. O companheiro, um homem de 45 anos, com antecedentes por descumprimento de medida protetiva e lesão corporal, foi preso em flagrante.
Isso só foi possível, porque um soldado de 43 anos, casado e pai de um menino, foi capaz de ouvir o apelo e compreender o código por trás dele. Kazinski entrou na BM em 2013, em Novo Hamburgo, e, em 2017, fez curso para ingressar na Patrulha Maria da Penha. Atuou no órgão em São Leopoldo até 2021.
— Vi muita coisa e atendi muitos casos desse tipo. Tem homens que acham que são donos das mulheres e pensam que isso é normal. É uma cultura que precisa mudar — resume Kazinski.
A Patrulha Maria da Penha
Teve início em outubro de 2012, em Porto Alegre, e, aos poucos, foi ampliada. Surgiu para atender especificamente os casos de violência contra a mulher. Hoje, a iniciativa está presente em mais de uma centena de municípios gaúchos e prova ser cada vez mais importante e necessária.