“Poeta, cantor e guerreiro da América que nascia / na bendita teimosia de continuar brasileiro”, dizem os versos de Jayme Caetano Braun, artista cuja história completa 100 anos neste 30 de janeiro. Em suas palavras, Jayme relembra a história do Rio Grande do Sul – desde a presença indígena, passando pelas Missões Jesuítico-Guaranis e as revoluções e guerras de que este chão missioneiro é testemunha. “Fui sempre aquilo que sou, sou sempre aquilo que fui / porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou… / sou o brasedo que ficou e aceso permaneceu / sou o gaúcho que cresceu junto aos fortins de combate”, afirma outro trecho do poema “Payada”.
Nascido na fazenda Santa Terezinha, na comunidade da Timbaúva, em Bossoroca/RS, no período em que o território ainda pertencia a São Luiz Gonzaga, no dia 30 de janeiro de 1924, Jayme marcou seu nome na história da região das Missões e do Rio Grande do Sul e, talvez, da própria América Latina. Não por acaso, está presente em ruas, praças, medalhas, canções e na memória de muitos gaúchos.
Jayme ficou conhecido por sua atuação como artista pelas “Payadas” ou pajadas, como é o termo utilizado para a declamação de versos rimados de improviso em países como Chile, Uruguai, Argentina e Brasil. Embora o estilo fosse feito “à facão” (de improviso no dizer tradicionalista gaúcho), os versos de Jayme eram muito bem contextualizados com a realidade do poeta.
Figuras como os indígenas das Missões e os homens do campo eram frequentemente retratados pelo artista, assim como a cultura gaúcha e missioneira. “Não tem mistério o feitio dessa iguaria bagual / é charque – arroz – graxa – sal”, diz um trecho da pajada “Arroz de Carreteiro”, prato que é típico do município de São Luiz Gonzaga.
Entre suas obras estão: Galpão de Estância (1954), De fogão em fogão (1958), Potreiro de Guaxos (1965), Bota de Garrão (1966), Brasil Grande do Sul (1966), Paisagens Perdidas (1966) e Pendão Farrapo (1978), este último inspirado na Revolução Farroupilha. Ao longo de sua trajetória como poeta, Jayme também foi membro e co-fundador da Academia Nativista Estância da Poesia Crioula, grupo de poetas tradicionalistas criado no final dos anos 50, em Porto Alegre.
Ainda em relação aos livros, Jayme foi autor de Payador e Troveiro (1990), e de 50 Anos de Poesia (1996), última obra que escreveu antes de falecer em 8 de julho de 1999. Além disso, em 1987 ajudou a formar o chamado “Tronco Missioneiro”, grupo que passou divulgar a cultura regional pelo estado e país, ao lado de artistas como Noel Guarany, Cenair Maicá e Pedro Ortaça.
Atuação política e como radialista
“Aí está o gaúcho atual / muito mais do que pilchado / alerta e conscientizado / de todo o seu potencial”, afirma Jayme em “Está na Hora”. Neste poema, assim como em diversos outros, o pajador revela seu lado consciente e engajado com questões políticas, o que viria ser outra das marcas de sua trajetória de vida.
Ao lado de Joca Martins, compôs “O petiço de São Borja”, música que fala sobre Getúlio Vargas. Posteriormente, Jayme também participou de campanhas ao lado de Leonel Brizola e João Goulart, além de ter sido eleito suplente para uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em 1962. A voz forte de Jayme também foi destaque no rádio, inclusive com uma passagem pela Rádio São Luiz em 1950, quando apresentou o programa “Galpão da Estância”, no ar até os dias de hoje.
Reconhecimento e homenagens
Atualmente, Jayme Caetano Braun é presença constante nas celebrações da cultura gaúcha e possui uma estátua e um Complexo Cultural em sua homenagem, em uma das entradas de São Luiz Gonzaga pela BR 285. Em dezembro de 2023, um projeto de lei na Assembleia Gaúcha declarou o ano de 2024 como dedicado à celebração do centenário do artista.
Ao longo de todo o ano, estão previstas diversas programações para exaltar e valorizar a obra do artista. Neste dia 30 de janeiro, em São Luiz Gonzaga uma cavalgada terá como ponto final o descerramento de uma placa em homenagem ao artista na Praça Cícero Cavalheiro. Já em Porto Alegre, o evento “Jayme Caetano – Um século de arte”, terá a presença de diversos artistas em uma mostra músico-poética para relembrar do Pajador.
Desde o dia 12 de janeiro, todos os dias a Rádio São Luiz prestou um tributo ao artista. No quadro “A Hora do Pajador”, uma poesia ou música do artista é apresentada, de segunda a sexta às 9h30 e 16h30, aos sábados às 13h30 e 18h30 e domingo às 13h e 15h. A última edição será reproduzida na tarde desta terça-feira, 30, também às 16h30, como uma forma de valorizar e homenagear o legado de Jayme Caetano Braun.
“Outro, outro apenas pajador
Misto gente e urutau
É o Jayme Caetano Braun
Do velho Rio Grande em flor
Cantando coplas de amor
Sem se importar com os espinhos
De tanto trançar carinhos
Foi se enredando nas tranças
E hoje tropeia lembranças
Que juntou pelos caminhos!”
Os Quatro Missioneiros – Jayme Caetano Braun
Fonte: Rádio São Luiz