A colheita do arroz é aberta oficialmente nesta quarta-feira (21) no Rio Grande do Sul. O estado é responsável por cerca de 70% da produção nacional do cereal.
Em 2024, a safra deve ser comprometida. Por causa das fortes chuvas da primavera de 2023, houve atraso no plantio – em situações normais, o arroz deveria ser plantado entre o fim de outubro e o início de novembro, o que não ocorreu.
“Tivemos, em agosto, uma ‘janelinha’ de preparo do solo, bem pequeninha. Foi feita alguma coisa de preparo, e os demais ficaram para preparar na hora do plantio. Conseguimos plantar no final de novembro e dezembro”, conta o produtor rural Élvio Pillon, de Santa Maria, na Região Central do RS, área responsável por 18% da produção estadual.
O ciclo do arroz é de 120 a 140 dias. A planta precisa de uma boa incidência de sol para a floração, mas com temperaturas amenas (entre 17ºC e 35ºC). Por mais que o cultivo de arroz precise de um sistema de área inundada, o excesso de chuvas prejudicou o plantio deste ano.
“Para aquelas lavouras que conseguiram ser semeadas até 15 de novembro, está dentro da época, e o potencial é bom. Para as que foram semeadas depois, tem uma redução de até dois sacos por hectare a cada dia de atraso. E para aquelas lavouras foram semeadas depois de 21 de dezembro, a perda de produtividade pode chegar a 10 sacos por hectare para cada dia de atraso.”, diz Nereu Streck, professor de agronomia.
No informativo semanal divulgado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do RS, o preço do saco de 50kg de arroz, que pode chegar a R$ 120 em algumas regiões do estado, está cotado em menos de R$ 110 em Santa Maria, uma das regiões mais afetadas.
“Se o produtor produz menos, e o custo de produção é maior, isto vai ser repassado para o consumidor. Já vivemos um momento em que o arroz está caro, e no cenário atual de perda de produtividade, o mercado pode tentar absorver esses maiores custos”, explica Streck.
Impacto do El Niño
Na Fronteira Oeste do estado, onde chuvas e enchentes durante a primavera também causaram impactos na produção, produtores precisaram atrasar o plantio do arroz, replantar o grão ou até mesmo reduzir a área. Quem possui lavouras em áreas distantes de rios e arroios já começou a colheita – mas parte dos produtores vão precisar esperar para colher.
William Vizotto, produtor rural da região, precisou reduzir em 35% os mais de 1,4 mil hectares semeados. Ele teve a lavoura atingida pela enchente do Rio Uruguai, o que atrasou parte da produção.
“A implantação da cultura foi mais tardia. Está refletindo agora, no início da colheita, nessas primeiras áreas. Bastante falha, grão ‘chocho’…”, diz.
A meteorologista do Instituto Rio-Grandense do Arroz (IRGA) Jossane Cera explica o impacto do El Niño na produção e garante: a colheita deve ser menor do que o normal.
“Arroz gosta de água no pé e sol na cabeça. Quanto mais dias ensolarados, melhor para a planta expressar seu máximo potencial produtivo. Em anos de El Niño, a gente tem redução na rediação solar, então a produtividade tende a diminuir. Não conseguimos precisar qual vai ser a redução, até porque as colheitas recém estão iniciando, mas devido a esses dois fatores, a produtividade tende a ser menor no RS como um todo”, explica.