Em tempos de desastres naturais, é comum questionarmos onde estaria Deus neste momento de sofrimento, por vezes até atribuindo-lhe culpa. Nesse contexto, surge um texto bíblico intrigante: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.
Compreender as adversidades da vida e analisar essa mensagem, demanda uma busca laboriosa sobre a diferença de Deus e da natureza, utilizando ferramentas filosóficas e científicas.
A palavra “Verbo”, significa ação. Porém, na interpretação hermenêutica, simboliza “reverberação” e segundo a ciência é um fenômeno de ondas mecânicas.
No “Rigveda” da literatura hindu, anterior à Bíblia, é oferecido uma reflexão profunda sobre a natureza, personificada no deus “Rudra”, cujo nome significa “rugido”. É uma consciência associada à tempestade e à destruição renovadora. O sentido figurado e os personagens divinizados, eram empregados na mitologia para educar as pessoas daquela época. Hoje, a ciência encontra eco nessa mitologia com a teoria do “Big Bang”, a reverberação que deu origem ao universo.
O que busco evidenciar é que, seja no conceito bíblico, mitológico ou científico, o foco recai sobre a “criação” em si e não sobre o “Criador”. Por razões provocativas e transformadoras, o ser humano está constantemente em conflito com as forças do meio ambiente. Mas a “Justiça Divina” transcende as leis naturais e humanas, e a ordem matemática e impessoal, pois essa relação com os fenômenos físicos difere fundamentalmente da relação com Deus, onde o amor e a misericórdia estão presentes.
Tenhamos plena convicção de que a benevolência celestial nos sustenta diante dos desafios que provocamos, mesmo sem Sua culpa. E que, apesar da efemeridade da nossa existência física, o espírito é eterno. As dificuldades são, de fato, um “sopro” transformador que nos molda em direção à elevação espiritual, fazendo eclodir um novo ser dentro de nós mesmos. Recordando que a jornada terrena é apenas uma fração de nossa existência.
Mauro Falcão – Escritor brasileiro