De um lado, colchões, animais de estimação, roupas e mantimentos. Do outro, seis bolos de casamento, um altar improvisado e mesas postas para um banquete. Esse era o cenário em um abrigo montado na Avenida Bento Gonçalves, em Porto Alegre, neste sábado (25), quando foi realizado um casamento coletivo.
Na ocasião, seis casais que foram vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul realizaram um sonho em meio à tragédia: trocar alianças e celebrar a união em uma cerimônia religiosa. O abrigo, mantido por congregados da Igreja Manancial de Vida e demais voluntários, ficou em clima de festa, com direito a decoração, música e churrasco para as famílias, além de uma mesa de doces. O mais surpreendente é que tudo foi preparado em apenas três dias.
A busca por pessoas dispostas a fazer o evento acontecer começou na quarta-feira (22), com uma mobilização nas redes sociais e através de conhecidos. E deu muito certo: todas as despesas da festa foram custeadas exclusivamente com o apoio de voluntários, além de empresas que se disponibilizaram a prestar os serviços e fornecer doações.
Fotógrafo, confeiteiras, maquiadora, cabeleireira, designer de unhas, entre outros profissionais, se mobilizaram para garantir um dia único aos casais. Uma loja de roupas de festa garantiu os ternos e vestidos de noiva. Também foram adquiridas alianças e buquês de flores para os seis casais.
Para começar o dia especial, os noivos ganharam um café da manhã colonial. Depois, as noivas tiveram a experiência do famoso “dia de princesa”. No próprio abrigo, elas fizeram penteados, maquiagem, unhas e sobrancelhas para ficarem impecáveis para o grande dia. Para Maria do Carmo Santos Silveira, 54 anos, foi um dia inesquecível, que serviu para aquecer o coração em meio a tantas perdas.
— Estamos juntos há seis anos. A gente sempre quis se casar, mas não tínhamos condições. Agora, surgiu essa oportunidade e aproveitamos. Estou sem palavras, foi tudo muito maravilhoso. Se Deus quiser, vamos conseguir reconstruir tudo, com força e com fé — conta a noiva.
Ela e o parceiro, Jardel Nunes de Oliveira, moram no bairro Cidade Verde, em Eldorado do Sul. Maria conta que a água subiu até o telhado na casa deles, e que acabaram perdendo todos os móveis e pertences. Eles estão no abrigo desde o dia 5 de maio.
Pedido de casamento inspirou a festa
O carpinteiro Ederson Cadernal Fanfa, 45, também está abrigado desde o dia 5 no local, junto dos filhos e da companheira, Ariana Querin da Silva, 40. Na semana passada, em meio à comemoração de aniversário de um ano da filha, organizada pelos voluntários, Ederson decidiu aproveitar o momento feliz e pediu Ariana em casamento.
— Depois de cantar parabéns para nossa filha me deu um estalo. Eu estava feliz, decidi pedir ela em casamento. Eu já tinha conseguido as alianças, meu irmão mais velho conseguiu para mim. Aí eu falei que queria dar meu sobrenome para ela, mostrei a aliança e pedi. Ela ficou encantada, chorando. Ela nem falou nada, só me abraçou e beijou — relata.
Ariana e Ederson moram na Ilha da Pintada, e ainda não têm dimensão das perdas por conta da enchente. Eles tiveram que ser resgatados do local no dia 5 de maio, e foram direto para o abrigo. Apesar das perdas, estão felizes com a festa e com o acolhimento no local. Assim que os voluntários souberam do noivado, começaram a se mobilizar para organizar o casamento.
Depois, surgiu a ideia de fazer uma cerimônia não só para eles, mas para outros casais abrigados no local. O que começou como uma brincadeira acabou se tornando realidade. Cerca de cem pessoas participaram do evento na Avenida Bento Gonçalves, 6623, entre voluntários, amigos e familiares. Após a cerimônia, os casais e convidados jantaram, mas não antes das noivas jogarem os buquês de flores.
— Foi tudo com a ajuda de pessoas que apareceram nas redes sociais, no boca a boca. É maravilhoso poder fazer algo que alegra o coração, no meio de tanta tristeza. É um acalento para o coração — diz a técnica em enfermagem Julini Schmitz Cezar, uma das voluntárias no abrigo.
Jéssica de Mello e Diordan Ismael da Costa Cardoso também se casaram na ocasião. O casal está organizando uma vaquinha para tentar reconstruir o lar – a casa deles no bairro Sarandi foi levada pela correnteza. A meta é conseguir pelo menos R$ 10 mil, mas eles conseguiram menos de R$ 1 mil até o momento. Eles aceitam qualquer doação pelo Pix (035.860.850-36).
O abrigo no bairro Agronomia já está com menos famílias – chegou a ter 80 pessoas acolhidas e agora tem cerca de 40. Mesmo assim, mais de cem voluntários seguem mobilizados, auxiliando 24 horas por dia.
O espaço foi montado em um galpão cedido pelo Atacadão Miranda Móveis e é coordenado pelo pastor Rodrigo Tavares, da Igreja Manancial de Vida, que conduziu a cerimônia religiosa neste sábado. Segundo ele, o abrigo também funciona como centro de distribuição de doações.
Os voluntários pedem que sejam doados itens como cobertores e materiais descartáveis, como pratos, copos e talheres. Também são aceitas doações pelo Pix: CNPJ 54168156000105, do Ministério Manacial de Vida.
Fonte: GZH.