A Justiça do Rio Grande do Sul recebeu as denúncias do Ministério Público (MP) e tornou réu o pai de santo Cleber Otavio Silva da Silva, 45 anos, pelo estupro de cinco crianças e adolescentes em Viamão, na Região Metropolitana. Com isso, Silva começa a responder aos processos criminais na Justiça. Ele está preso preventivamente.
Segundo a investigação da Polícia Civil, o pai de santo se aproveitava da posição de religioso para se aproximar de crianças em situação de vulnerabilidade e estuprá-las. Ele fazia trabalho voluntário em abrigos da Região Metropolitana.
O réu também produzia e distribuía material pornográfico infantil na internet com elas, além de organizar orgias. Após a divulgação, chantageava as vítimas para que elas não denunciassem.
— É uma coisa doentia. Além de produzir as imagens, ele divulgava. Ele repassava, tinha comunidades, grupos de WhatsApp, onde marcava encontros sexuais. Ele tinha toda uma identificação e um comportamento voltado para esse tipo de coisa — disse a delegada Marina Dillenburg, responsável pela investigação.
A defesa de Cleber informou à reportagem, na manhã desta quinta-feira (11), que se manifestará somente nos autos do processo.
Os processos
São dois processos a que ele responde: o primeiro deles pelo estupro de uma criança. Os pais dela também se tornaram réus e respondem por omissão. A promotora de Justiça Paula Bittencourt Orsi afirma que o menino foi abusado desde que tinha 7 anos, entre 2019 e março de 2024.
Já o segundo é pelo estupro de quatro crianças e adolescentes. De acordo com a delegada Marina, Silva teria a guarda de dois dos adolescentes que, em um primeiro momento, negaram o abuso.
No entanto, após irem para um abrigo, um deles denunciou o caso para uma assistente social e confirmou os abusos para a delegada durante um depoimento. Já o segundo adolescente contou o que passou à própria mãe, que procurou a delegada para falar sobre o abuso. Ele convivia com o pai de santo desde os 8 anos, segundo a delegada.
Além dos crimes de estupro, ele responde por importunação e ameaça.
— Em um dos casos, a fim de assegurar o silêncio da vítima, ameaçava reiteradamente o menino de que iria jogar feitiços contra ele e sua família para que coisas ruins acontecessem com eles, caso contasse sobre os abusos. Quando a vítima se negava às práticas sexuais, o denunciado também a agredia fisicamente — afirma a promotora.
Ao todo, a polícia já identificou 12 crianças e adolescentes que teriam sido vítimas de abuso. Eles têm entre 7 e 16 anos.
Vítimas identificadas e período em que sofreram abusos:
- Menino de 7 anos, em 2019, até março de 2024
- Menino de 7 anos, em 2016, até maio de 2024
- Menino de 10 anos, em 2020, até 2023
- Adolescente de 13 anos, em 2022, até agosto de 2023
- Adolescente de 16 anos, em 2019, até 2020
Chantagem e pornografia
Segundo a Polícia Civil, o homem produzia material pornográfico e chantageava as crianças e os adolescentes. Ele visava aquelas que estavam em situação de vulnerabilidade social, principalmente em abrigos. Após a aproximação, começavam os abusos.
— Ele se colocava como guru dessas crianças e ele fazia uma chantagem. Ele dizia que, se elas não se submetessem a esses abusos, então ele, de alguma forma, faria com que algum mal acontecesse para os familiares delas, para as pessoas que elas gostavam — afirmou a delegada Marina.
O caso foi descoberto quando uma dessas crianças, de 11 anos, denunciou o pai de santo. Ela apresentou mudanças de comportamento em um abrigo de acolhimento institucional, que atende menores de idade afastados da família por determinação judicial, de acordo com uma assistente social do espaço.
— Agressividade, comportamento hostil, mudança de comportamento. A criança está bem, daqui a pouco ela tem um “sopetão” de agressividade. Esse foi o principal alerta que a gente teve — contou Cida de Jesus, coordenadora de abrigos no município.
O caso chegou à Polícia Civil, que começou a investigar. A apuração indicou que o pai de santo cometia os crimes há pelo menos 10 anos.
— Ele submetia essas crianças, além dessa tortura física, sexual, ele também fazia tortura no sentido de que eles tinham que passar por sessões religiosas e de curas — relatou a delegada.
Além disso, ele tentava adotar as crianças com o objetivo de conseguir a guarda definitiva delas.
Distribuição do conteúdo
A Polícia Civil também identificou dois integrantes de um grupo na internet usado pelo pai de santo para divulgar conteúdo pornográfico infantil e organizar orgias com crianças e adolescentes.
Os dois integrantes identificados devem ser responsabilizados por crimes como estupro de vulnerável, bem como armazenamento, produção e distribuição de material pornográfico infantil.
Fonte: GZH