Procedimentos de rotina transcorriam sem sobressaltos na Penitenciária Estadual de Canoas 3 (Pecan 3), até a metade de sábado. Como de costume, no final da tarde, era feita a conferência de presos ali. A execução de Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, 41 anos, aconteceu em meio ao processo.
A conferência é uma checagem de presos. Em unidades moduladas, como a Pecan, essa averiguação ocorre com os policiais penais em um andar a cima das galerias, vigiando os detentos através de um chão gradeado.
Um comando automático abre simultaneamente as portas das celas. Os presos saem e ficam alinhados na galeria. Do piso superior, os agentes fazem a contagem.
Assim foi na triagem da Pecan 3, onde os apenados ficam recolhidos em recintos individuais. Ocorre que, pouco após a abertura das portas, um apenado invadiu a cela de número 10, onde estava Nego Jackson.
O intruso era um jovem de 21 anos, armado. Foram efetuados cerca de 12 tiros. Jackson chegou a ser socorrido com vida, mas não resistiu e acabou morrendo enquanto recebia atendimento médico.
Uma pistola calibre 9 milímetros foi apreendida. Informalmente, o atirador teria admitido a autoria do crime. A suspeita é que a arma tenha sido enviada por um drone.
A investigação aponta que o mandante seria um criminoso conhecido como Sapo, de 36 anos. Ele e o atirador foram transferidos à Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), no domingo, onde seguem em isolamento. Ambos seriam membros de um grupo rival ao de Nego Jackson.
Um dia antes de morrer, Jackson havia escrito uma carta sobre os perigos que corria na unidade. O manuscrito era endereçado ao diretor da Pasc, e pedia transferência para uma ala sem desafetos, o que não ocorreu.
Quem é o atirador
Além do homicídio de Nego Jackson, o jovem também é suspeito de participação no assalto ao Aeroporto de Caxias do Sul, em 19 de junho, quando teria atuado como motorista. Ele foi preso por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na BR 101, em Torres, dias após o crime.
Em 2019, ainda adolescente, o criminoso foi apreendido após roubar um motorista de aplicativo em Alvorada. Os registros dele ainda somam passagens por homicídio, tráfico de drogas, assalto a uma joalheria, roubo de veículo e receptação.
Quem é o mandante
Sapo é um dos mais antigos membros da facção oriunda do bairro Bom Jesus, na zona Leste de Porto Alegre, atuando no grupo desde 2007. Ele responde por ao menos nove homicídios, além de tráfico de drogas, associação ao tráfico, organização criminosa, entre outros delitos.
O criminoso começou a cumprir pena em regime fechado na Penitenciária Estadual do Jacuí, em 2012. Após uma passagem pela Pasc, em outubro de 2013, recebeu benefício de prisão domiciliar. Foi preso novamente em maio de 2014.
Sapo permaneceu no antigo Presídio Central até setembro de 2022, quando foi transferido ao Sistema Penitenciário Federal. Ele retornou a solo gaúcho no início do ano seguinte, sendo enviado mais uma vez para a Pasc.
O envio de Sapo para a Pecan 3 foi uma tentativa de impedir a comunicação dele com outros comparsas. Isso porque há bloqueadores de sinal telefônico no complexo prisional de Canoas.
Fonte: Correio do Povo