O Butantan suspendeu nesta quinta-feira (6) o envase da vacina CoronaVac por conta da falta de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), a matéria-prima do imunizante. É a segunda vez que o procedimento é paralisado por conta de atrasos no recebimento.
O Instituto é parceiro da Sinovac, e responsável pela etapa final de produção da vacina, que consiste em envase, rotulagem e testes de qualidade.
Os atrasos e recorrentes adiamentos de prazo são vistos pelo instituto como uma consequência das declarações feitas pelo governo federal à China, fornecedor do insumo.
Na manhã desta quinta (6), o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que houve uma redução na previsão de recebimento de matéria-prima da vacina e atribuiu o problema à “falta de alinhamento” do governo federal.
“Espero que o ministro das relações exteriores cumpra seu papel e atue o mais breve possível e com êxito para que tenhamos a liberação desses insumos em Pequim para que o instituto Butantan possa retomar a produção da vacina aqui em São Paulo”, disse Dimas.
Segundo o Butantan, o setor responsável pelo envase da CoronaVac está ativo, mas passou a processar apenas doses da vacina contra a gripe.
Na quarta (6), o Instituto Butantan disse que solicitou à Sinovac 6 mil litros do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), para produzir aproximadamente 10 milhões de doses. Metade desse montante, porém, corresponde ao lote que deveria ter sido enviado em abril.
Em coletiva de imprensa na manhã desta quinta, Dimas informou que nos próximos dias chegarão apenas 2 mil litros do insumo.
Ao lado do governador João Doria, Dimas participou da entrega de mais 1 milhão de doses CoronaVac na manhã desta sexta.
“O insumo da principal vacina que vai no braço dos brasileiros vem da China”. Segundo Dimas, foi provocado um mal-estar “por sucessivas declarações desastrosas do ministro da economia, Paulo Guedes, e agora do presidente da república, Jair Bolsonaro”.
A China é fornecedora de insumos para a produção tanto da CoronaVac, do Instituto Butantan, como da vacina de Oxford, produzida pela Fiocruz.
Nesta quarta-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro insinuou, sem mencionar a China, que o novo coronavírus pode ter nascido “em laboratório”. Em seguida, questionou se “não estamos enfrentando uma nova guerra.”
“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês”, disse o presidente.
O governador João Doria também criticou as declarações. “Isso causa profundo mal-estar na chancelaria chinesa e quero registrar como governador de São Paulo meu protesto com essas manifestações agressivas e desnecessárias ao governo da China, à produção das vacinas e a colocações que não contribuem à normalidade da entrega de IFA para vacinas. Tenho certeza que isso tem influência nos insumos da AstraZeneca”, disse Doria.
O diretor do Butantan afirmou ainda que existe a possibilidade de faltar insumo para a produção da CoronaVac no Brasil. “E aí nós temos que debitar isso principalmente ao nosso governo federal que tem remado contra. Essa é a grande conclusão”.
Fonte: G1