O proprietário de um Centro de Remoção e Depósito (CRD) do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) em Taquari, a 96 km de Porto Alegre, usava um carro de luxo apreendido para dirigir pela cidade. Uma série de vídeos obtidos pelo Grupo de Investigação (GDI) da RBS mostra o veículo em diferentes ocasiões.
O carro é um Chrysler prata, apreendido em dezembro de 2022 por estar com a documentação irregular. Imagens mostram ele parado em sinaleiras e até em um supermercado. Um adesivo de propaganda política chegou a estampar o vidro traseiro do carro.
O Detran abriu uma investigação e suspendeu as atividades do estabelecimento após os registros, feitos entre janeiro e outubro deste ano.
“A pessoa que tem o carro não pode rodar com o carro porque está irregular, mas o dono do depósito pega o carro e sai andando? E aí a polícia não vê o que acontece?”, questiona um dos moradores.
O dono do depósito, Juliano Borba da Silva, foi abordado pela reportagem, mas não quis se manifestar.
Repórter: “O senhor não acha que isso está errado?”
Dono do depósito: “Não tenho nada a ver com isso”
Repórter: “O senhor não acha que isso tá errado?”
Dono do depósito: “Não tenho nada a ver”
Repórter: “O senhor pode perder a concessão”
Dono do depósito: “O que tem a ver uma coisa com a outra?”
Silva sugeriu que a equipe da RBS TV fosse buscar informações na delegacia.
O dono do automóvel foi localizado pelo GDI em Santa Maria, na Região Central. Ele disse que comprou o carro de um golpista, que se fez passar pelo verdadeiro dono, motivando a apreensão.
“Isso pra mim é muito triste. A gente vê um bem que é da gente, que a gente levou tanto tempo pra adquirir, algo que eu sempre cuidei com muito amor, com muito carinho, sendo usado inadequadamente por um proprietário de um depósito que hoje é vinculado com um dos maiores órgãos, né? Que é o Detran. E aí eu não consigo entender”, lamenta.
Além do Chrysler, um HB20 apreendido em 2023, com ordem judicial de busca e apreensão, também foi filmado e fotografado estacionado em diversos pontos do município. O Comando Regional da Brigada Militar abriu investigação para descobrir se o carro estava sendo utilizado por um PM.
Inquérito será reaberto
O delegado regional em exercício, Juliano Stobbe, afirmou que um inquérito havia sido aberto para apurar o caso, mas foi arquivado por falta de provas. A delegada que iniciou a investigação, Betina Caumo, não quis receber a equipe da RBS TV e nem se manifestar sobre o caso.
Diante das novas evidências, o inquérito será reaberto, com a constatação apurada previamente de que o veículo conduzido pelo dono do estabelecimento já tinha rodado cinco mil quilômetros após a apreensão. Uma “discrepância considerável”, segundo o delegado.
”Ela [a delegada] iniciou a investigação, não chegou a uma conclusão efetiva num primeiro momento, interrogou o dono do depósito, que alegou que movimentava efetivamente os veículos, mas somente entre os depósitos, na medida em que eles se localizam em dois lados de uma mesma rua. Então, segundo ele, só transferia o carro de depósito pra depósito. E não havendo outros elementos naquele momento, o inquérito foi concluído nesse sentido [do arquivamento]”, afirma o delegado.