O Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) destituiu do cargo um dos seus diretores após denúncias de assédio sexual praticados por ele contra mulheres no ambiente de trabalho.
Conforme apurou o Grupo de Investigação (GDI)* do Grupo RBS, 13 mulheres já denunciaram Gabriel Leal Marchiori, que atuava na direção do Banrisul Consórcio. Uma delas enviou um e-mail ao GDI há cerca de 30 dias contando o que aconteceu. Na mensagem, ela diz que ele tirou a roupa de uma estagiária em sua sala. O abuso fez com que ela buscasse o Ministério Público do Trabalho (MPT). Confira, abaixo, os relatos das mulheres.
As mulheres procuraram o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (Sindibancários), que cobrou providências do banco.
“São relatos de toques inapropriados, convites inapropriados, a ponto de constranger as mulheres dentro do ambiente de trabalho, de deixar essas mulheres se sentindo humilhadas e, ao mesmo tempo, não têm coragem de falar disso. Afinal de contas, é uma relação de força. É um cargo de alto escalão, existe correlação de força, e [eles] sentem que não vai dar em nada”, diz Silvia Regina de Carvalho Chaves, diretora do sindicato.
Marchiori segue sendo servidor do banco, mas atuando em outro setor e em teletrabalho. Ele está há 12 anos na instituição. Na última semana, apresentou um atestado médico de afastamento por 90 dias.
O GDI entrevistou Marchiori, mas o servidor preferiu que sua defesa em relação às denúncias fosse feita por meio de nota. Nela, ele diz que “são infundados [os fatos], desprovidos de provas e apurados dentro de um procedimento administrativo manifestamente inconstitucional, onde não lhe foi assegurado o direito à ampla defesa”.
Ao GDI, o Banrisul disse que “em relação ao lamentável caso em questão, logo após o recebimento da denúncia, o banco iniciou uma apuração ampla e detalhada para esclarecer os fatos” (veja a nota, na íntegra, abaixo).
O MPT disse que abriu um procedimento inicial para analisar o caso. De acordo com a Polícia Civil, até sexta-feira (24), não havia ocorrência registrada em delegacia contra Marchiori.
Convivendo com a ansiedade, medo de represália e até a culpa, as mulheres esperam que as denúncias sirvam como exemplo.
“Eu comecei a desenvolver também um processo de culpa. Porque se lá em dezembro eu tivesse relatado o que aconteceu, talvez eu tivesse evitado o que aconteceu com outras mulheres, por exemplo, com a estagiária. E aí, a gente vai carregando essa culpa, vai somatizando. E tu chega a séculos de submissão, que as mulheres foram obrigadas a se calar. E esse silêncio, essa vergonha, foi o que fez perpetuar esse tipo de comportamento entre as instituições. E nós não temos mais espaço pra esse tipo de comportamento. Claro que a gente quer que a justiça no caso seja feita e que o assediador seja punido, mas, principalmente, nosso desejo é servir de exemplo para outras vítimas e para outros assediadores. E até para que a gente repense os comportamentos do dia a dia, que muitas vezes a gente acaba repetindo por tradição, e que são nocivos, são doentios”, afirma.
“Antes de eu sair, tu podia me dar”
O GDI ouviu nove mulheres. Algumas sofrem com crises de ansiedade e estavam em tratamento psicológico.
No mesmo ambiente de trabalho, mais de uma mulher se sentia vítima do diretor, mas não sabiam dos casos entre si e tinham vergonha de contar. Foi a partir da denúncia da estagiária que o silêncio se quebrou.
Depois esse primeiro relato, outras mulheres se reuniram em um grupo de WhatsApp para compartillhar suas histórias. Uma delas afirma que Marchiori condicionou uma promoção a ter uma relação com ele.
“No decorrer da entrevista, ele deixou claro que ele gostaria que eu trabalhasse na equipe. Inclusive, se dispôs a falar com outros dirigentes, diretores, para que se efetivasse com celeridade esse processo. Nos despedimos, eu feliz com a perspectiva do novo cargo, da promoção, me dirigi em direção a saída, fui saindo da sala dele em direção ao elevador. Quando cheguei na frente do elevador, eu recebi uma mensagem, dessas mensagens instantâneas, que se desfazem após lidas, e a mensagem dizia ‘mais bonita pessoalmente, pena que está tão tímida ou pena que é tão tímida’. A próxima mensagem foi ‘eu gostaria de ter a oportunidade de te conhecer melhor’. E a terceira frase foi ‘eu posso agora'”, relembra.