Dois dos alvos da Operação Galápagos, desencadeada nesta quinta-feira (7), são suspeitos de usar o registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) para adquirir armas e coletes para o crime organizado. A ofensiva é resultado de uma investigação iniciada há sete meses pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), após um sítio com um arsenal ser descoberto em Gravataí, na Região Metropolitana.
— A investigação demonstra que eles seriam provavelmente quem adquiria o material bélico para repassar para o grupo criminoso. Eram fuzis, pistolas e coletes balísticos — afirma o delegado Rafael Liedtke, da 2° Delegacia de Repressão ao Narcotráfico do Denarc.
Um dos suspeitos, com registro de CAC, é morador de Canoas, na Região Metropolitana, teve prisão temporária determinada, e foi preso nesta manhã. Com ele, foram apreendidas 16 armas de fogo, entre elas revólveres, pistolas e uma submetralhadora de uso restrito das Forças Armadas, além de centenas de munições de diferentes calibres.
Ainda foi localizado um fuzil de calibre 556 que estava armazenado num outro local, numa empresa de um familiar do investigado. A apreensão chamou a atenção da polícia, pelo potencial da arma, e por ser um armamento idêntico ao que foi apreendido em maio no sítio, após confronto com a polícia.
— Diversos indícios apontam para a aquisição dele desses armamentos de forma legal e maquiando para o repasse para essa facção utilizar essas armas, não só para manutenção dos pontos de tráfico de drogas, mas também crimes patrimoniais e crimes contra a vida. O fuzil de calibre 556 apreendido hoje com um CAC é idêntico, mesma marca, mesmo modelo, mesmo calibre, ao que foi apreendido com o indivíduo que confrontou a polícia, mas lá a numeração estava raspada, suprimida — explica o delegado Liedtke.
O outro CAC teve prisão preventiva decretada pela Justiça e foi preso na zona norte de Porto Alegre. Com ele foi apreendida uma pistola. Os nomes dos presos não foram divulgados pela polícia.
A operação
Durante a ação desta manhã, são cumpridos 22 mandados de prisão – 14 preventivas e oito temporárias – e 19 mandados de busca e apreensão, além de bloqueios de contas bancárias, sequestros de veículos e um de imóvel de alto padrão. Pelo menos 20 pessoas foram presas e cerca de 20 armas apreendidas até o momento. A ofensiva ocorre em 12 municípios, sendo parte das ordens cumpridas em Santa Catarina.
O sítio alvo das ações da Brigada Militar e Polícia Civil em maio era usado como um depósito de armamento, que estava em funcionamento pelo menos desde o início do ano. O grupo alvo da ofensiva se chamava de Tropa do Pinguim – motivo que inspirou o nome da operação. A quadrilha agia tanto em Gravataí, como na Vila São Borja, na zona norte de Porto Alegre, mas tinha também ramificações no Estado vizinho.
Em muitos casos, esses armamentos, segundo a polícia, são usados justamente nesses homicídios cometidos entre facções rivais. Quando o sítio foi descoberto, em maio, o homem identificado como um dos líderes do grupo foi morto após entrar em confronto com a polícia.
— É inacreditável, uma forma de burlar a lei. Um registro que seria para as pessoas utilizarem de forma esportiva, legal, como colecionador, acaba de forma ilegal e criminosa servindo ao tráfico de drogas. São armas de grosso calibre, como fuzis. Tanto que os agentes foram recebidos a tiros no sítio em maio. E ele (Adalberto Arruda Hoff, 43 anos, o Beto Fanho, que foi morto na ação) estava portando um fuzil calibre 556 e foi apreendido colete balístico. Isso reforça nossa suspeita de que algum CAC esteja adquirindo de forma ilegal e repassando a eles — diz o delegado.
Negociação
Durante a investigação, a polícia descobriu áudios com trocas de mensagens entre os investigados, nos quais eles falam sobre a negociação dos armamentos, coletes e munição.
— É por altura do tórax, que se mede o colete, não tem P, M e G. Para comprar tem que ir lá experimentar. Isso vai para o meu CR, fica no meu registro o colete. Então tem que ir lá experimentar. Tem que ser tipo o meu tamanho. Será que cabe em ti se o cara regular para maior, ou não? — descreve um dos alvos da operação.
Numa das mensagens, o investigado diz que o “Exército quer levar tudo controlado” – responsável por controlar os CACs. A conversa seria sobre as dificuldades para adquirir os materiais e repassar ao grupo.
— Os aparelhos é zero, zero, zero. É um cara atirador, que vai comprando, vai montando. Os aparelhos é zero, tem garantia. O cara que monta eles ele entende, sabe o que tá fazendo, tá montando — descreve um dos investigados em áudio.
Outros áudios obtidos pela investigação mostram investigados reclamando da dificuldade em adquirir munição de calibre 556 e 762 (para fuzil):
— Agora vai ficar difícil mesmo. O colecionador e o atirador foi proibido. Não tem mais.
— Essas pecinhas cada vez vai ficar mais difícil. Era para vir 10, veio duas. Está difícil. Agora os caras bloquearam tudo, não tem mais atirador, não tem mais colecionador, não tem nada.
Em julho deste ano, o governo federal restringiu o acesso às armas no Brasil. Entre as medidas, está a redução do número de armas e munição que podem ser adquiridas pelos CACs.
As apreensões no sítio
Na primeira ofensiva, quando os policiais invadiram o local, houve tiroteio no qual morreu Adalberto Arruda Hoff, 43 anos, o Beto Fanho, apontado como líder da facção e responsável por guardar o armamento na propriedade rural. O homem estava usando tornozeleira eletrônica. Na ação naquele dia, foram apreendidas seis armas, além de carregadores, munição, granadas e drogas.
A Brigada Militar retornou ao local no dia seguinte, cerca de 15 horas depois da primeira investida, e prendeu quatro pessoas após nova troca de tiros. Desta vez, sem feridos. Os policiais encontraram 16 armas enterradas na propriedade rural, além de munição, drogas e material para fabricar explosivos. Dois presos estavam nesta residência e outros dois em um sítio vizinho, que também pertenceria à mesma facção. Havia 4,5 quilos de pasta-base de cocaína e um quilo de crack enterrados no local.
Numa terceira investida no local, foram encontrados enterrados um fuzil calibre 556 e três pistolas, uma 9 milímetros, uma calibre 22 e uma 40. Também foram apreendidos carregadores e munição de pistolas e fuzil. Em paralelo também foram realizadas buscas na zona norte de Porto Alegre, onde também foram encontrados armamentos.
Colabore
Quem quiser auxiliar o Denarc com informações sobre o tráfico de drogas pode entrar em contato com o Disque-Denúncia pelo telefone 0800-0518-518. É possível fazer isso de forma anônima.
Fonte: GZH