Sirley Carvalho, 62 anos, é uma das porto-alegrenses acolhidas em um dos 160 abrigos temporários da Capital. Ela é mãe de cinco filhos e avó de oito netos. Mas neste Dia das Mães, não vai poder receber a visita dos filhos, nem encontrá-los. A família perdeu tudo na enchente que atingiu as Ilhas do Lago Guaíba na semana passada. Além disso, durante o resgate, foram obrigados pelas circunstâncias a se separarem. Sirley foi para o abrigo do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, e os filhos se refugiaram em casas de conhecidos em Viamão.
Apesar das águas seguirem baixando – o Guaíba atingiu 4,66m às 22h15 desta sexta, a virada no tempo agrava a preocupação. Há previsões de que a sequência chuvosa cause um repique com novos prejuízos e maior demora no retorno ao lar.
“Dos meus filhos eu demorei para ficar sabendo, porque eles ficaram em cima de uma laje. Eu cheguei aqui (no abrigo) e no outro dia me deu uma crise porque eu não sabia nada deles. Eu não tinha como fazer contato. Aí veio uma moça que me socorreu e eu falei para ela ‘estou desesperada porque não sei nada dos meus filhos e meus netos’, contou Sirley.
Dois dias depois, uma voluntária do abrigo conseguiu contatar uma das filhas de Sirley e, assim, ela teve notícias da família, que está segura em Viamão, após muitas dificuldades para obter resgate.
A casa de Sirley, que tinha chão de cimento e paredes de madeira, revestidas com PVC, foi submersa pela água. O olhar carregado é de quem viveu na pele e tem gravadas na memória as imagens de um trauma pessoal e coletivo. Essa é a situação da maioria dos 13.024 refugiados climáticos da Capital, que vão passar o Dia das Mães nos 160 abrigos temporários da cidade.
Da mesma forma, Alba Abreu, 37 anos, perdeu tudo na enchente que atingiu a Vila Farrapos. Ela é mãe de uma menina de 2 anos e de outra de 19, que estão com ela, o marido e a sogra, há uma semana no mesmo abrigo, no Menino Deus. No espaço do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), há muitas roupas e mantimentos doados, banheiros bons e um grande espaço ao ar livre, mas evidentemente o sentimento dos abrigados é de preocupação.
Segundo a abrigada Sirley Carvalho, a prefeitura informou que somente daqui a um mês será possível ter um panorama de qual solução de moradia será oferecida aos desabrigados pelas chuvas. “A experiência no abrigo está mais ou menos. Vou ver até segunda, de repente até segunda não sei se vou aguentar, porque é difícil, eu já tenho uma certa idade. Aqui não tem um espaço que eu saiba que é meu, fica todo mundo junto lá dentro. Sinto falta das minhas coisas e da minha rotina”, disse Carvalho sobre a experiência no abrigo.
“Acolhida eu estou, mas a gente está preocupado. A gente quer ter um lugar, uma casa. E a gente não pretende ficar o tempo todo aqui”, explicou Abreu.
Enquanto isso, mais um final de semana com previsão de chuva, em especial com o domingo de Dia das Mães, fragiliza a esperança dos desabrigados. Conforme relatam voluntários do CETE, os dias de sol fazem a diferença na disposição das pessoas nos abrigos.
Com o Estado e a Capital colapsadas, tanto a Prefeitura como o Governo do Estado ainda não anunciaram qual é o plano para garantir novas moradias à população desabrigada. As primeiras iniciativas devem ser anunciadas nas próximas semanas.
Fonte: Correio do Povo.