O Rio Grande do Sul enfrenta um déficit de quase 80% na rede de monitoramento da qualidade do ar, com apenas cinco estações de medição operacionais, enquanto a recomendação do Ministério do Meio Ambiente é a instalação de pelo menos 22 estações e 55 sensores complementares.
A situação se agrava com o aumento da fumaça que chegou ao estado gaúcho proveniente de incêndios que devastaram áreas em todo o Brasil nas últimas semanas, resultando em um céu nublado e comprometendo a qualidade do ar.
“A poluição do ar é responsável pela morte de milhões de pessoas em todo o mundo. Sete milhões de pessoas, aproximadamente, morrem em decorrência da poluição do ar. Então, é um grave problema, é um grave fator de risco para doenças cardiovasculares, para doenças respiratórias, para mortalidade precoce”, explica Flavio Manoel Rodrigues da Silva Júnior, professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
A medição da qualidade do ar é feita por estações de monitoramento. Elas devem ser instaladas em áreas urbanas, industriais, residenciais ou próximas a fontes de poluição.
Esses equipamentos são importantes para coletar dados sobre a presença de poluentes, como monóxido de carbono, ozônio e material particulado, que podem causar sérios problemas de saúde e penetram no sistema respiratório.
“Quando a gente está respirando, a gente está botando oxigênio direto na veia que vai para as células. Então, a mesma coisa é se a gente põe uma toxina. É um direito nosso conhecer a qualidade do ar na nossa cidade e especialmente zoneado nos lugares que tem maior risco”, diz o diretor técnico e científico da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Francisco Milanez.
Atualmente, as cinco estações de medição do Rio Grande do Sul estão concentradas na Região Metropolitana de Porto Alegre, nas cidades de Canoas, Triunfo, Gravataí, Esteio e Guaíba – locais com intensa operação industrial. A realidade atual, com uma estrutura que apresenta um déficit de quase 80%, impede que os cidadãos tenham acesso a informações precisas sobre a qualidade do ar que respiram.
“O ideal seria que a gente pudesse ter uma estação em cada cidade, porque o Rio Grande do Sul tem características muito peculiares de cada região”, diz Daiane Bolzan Bersele, professora e pesquisadora em Qualidade Ambiental da Feevale.
A reportagem da RBS TV questionou o estado sobre a quantidade ideal de estações e sensores, mas não obteve um posicionamento.
Cenário em Porto Alegre
Porto Alegre é uma das 17 capitais brasileiras que não monitora a qualidade do ar. A cidade gaúcha não possui um sistema de monitoramento ativo desde que as estações da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) foram desativadas em 2010 e, posteriormente, os equipamentos da prefeitura, em 2017.
A prefeitura de Porto Alegre lançou um edital para contratar seis novos equipamentos até o final de 2024, sendo cinco medidores fixos e um móvel.
Possíveis alternativas para ampliar o monitoramento
Em laboratório da Universidade Feevale, pesquisadores estão à frente de análises diárias sobre os efeitos da poluição. A instituição possui um equipamento fixo e um móvel, permitindo que os pesquisadores realizem medições em diferentes bairros e cidades.
“Como a bomba é fácil, é um equipamento leve e fácil de ser utilizado, a gente consegue levar para esses locais e monitorar áreas urbanas, áreas rurais, então vai muito da demanda, vai muito daquilo que a gente está procurando entender”, explica a professora e pesquisadora Daiana Bolzan Berlese.
Além das estações automáticas, o professor Flavio Manoel Rodrigues da Silva Júnior, da FURG, sugere o uso de tecnologias alternativas, como sensores de baixo custo e monitoramento via satélite. Esses métodos podem proporcionar uma cobertura mais ampla e menos onerosa em regiões que normalmente não são monitoradas com frequência.
A recente Política Nacional de Qualidade do Ar, sancionada pelo governo federal, exige que os estados apresentem um plano de gestão da qualidade do ar a partir de um inventário das emissões. Atualmente, o estado gaúcho não tem um inventário de fontes fixas. Já o inventário de fontes móveis foi feito pela última vez há 15 anos.
O secretário nacional de Meio Ambiente Urbano, Alberto Maluf, enfatiza a urgência de dados precisos para fundamentar as políticas ambientais.
“O Rio Grande do Sul nunca atualizou esse inventário. A gente aguarda com muita ansiedade o trabalho que a Fepam vem fazendo para que a gente possa ver, na realidade, se esses dados que são monitorados hoje pelo setor privado no Rio Grande do Sul, eles fazem sentido”, diz Maluf.
Fonte: G1