Central de regulação dos leitos chegou a obter um leito em Cruz Alta, mas Idemar da Silva faleceu antes da transferência. Município não tem vagas de UTI.
Um homem, de 50 anos, morreu à espera de um leito de UTI, em Não-Me-Toque, no Norte do Rio Grande do Sul, na manhã de segunda-feira (22), de Covid-19. Idemar da Silva havia dado entrada no Hospital Beneficente Alto do Jacuí no sábado (20), e apresentou piora.
O município não tem leito de UTI. Diante da gravidade do caso, o hospital requisitou uma vaga para Idemar no sistema de gerenciamento de leitos estadual, o Gerint. “No dia 20 nós já tínhamos dois pacientes no Gerint, que já estavam sem leitos. E no dia 20, internou esse paciente [Idemar]”, relata a enfermeira responsável pelo hospital, Cátia Müller.
“Não conseguimos leitos mesmo com contatos direto com todos os hospitais praticamente do estado que são do nosso conhecimentos. Ligamos para todos e não conseguimos esse leito no dia 22. Infelizmente ele teve uma piora mais importante ainda que necessitou intubação imediata aqui no hospital, a qual foi realizada por três médicos mais a equipe de enfermagem, só que ele não resistiu devido à gravidade e acabou tendo uma parada cardiorrespiratória que mesmo com a reanimação não foi possível salvá-lo”, descreve.
A Secretaria Municipal de Saúde diz que seguiu todos os protocolos de busca por leitos, mas não conseguiu uma vaga.
“A situação realmente é desesperadora, não há leitos disponíveis”, diz a secretária de Saúde, Liliane Kramer Erpen. Um dos pacientes cadastrados no Gerint conseguiu uma transferência para Pelotas. O outro segue aguardando.
A Secretaria Estadual da Saúde informa que o hospital contatou a Central Estadual de Regulação às 22h27 de domingo (21). “Após avaliação do caso, orientamos contato do hospital solicitante com a Central de Urgência para remoção imediata pelo SAMU. Não ocorreu esse contato”, diz.
Na manhã seguinte, às 9h, a transferência de Idemar para um leito de UTI em Cruz Alta foi autorizada. Porém, pouco mais de uma hora depois, ele faleceu em Não-Me-Toque.
‘Tirou nosso chão’
Idemar trabalhava como açougueiro e deixa esposa e um filho. “Tirou nosso chão. Porque a gente não viu ele mal. A gente não viu ele a ponto de perder ele sabe”, diz a esposa, Mara Regina da Silva.
“Pela boa saúde que ele tinha, a gente achou que dois, três dias ali no hospital e tá tranquilo, ele tá voltando aqui para casa e vai se recuperar. Quando a gente chegou lá e recebeu a notícia que ele tinha vindo a óbito foi forte, tirou nosso chão”.
O filho de Idemar, Lincoln Idemar da Silva, diz que a família estava “um pouco desacreditada” da doença. “Achava que podia ser uma besteira, que se tratasse tinha chance e não ia dar nada. E de um dia pro outro acontecer isso com a gente. Não é muito fácil superar”, lamenta.
Não-Me-Toque adotou novas medidas contra a doença, mas rigorosas. Quem for flagrado em aglomerações levará multa de R$ 500, e quem promover grandes concentrações, será multado em R$ 5 mil.
Fonte texto e foto: G1