Leonice Friedrich viu na canoagem uma nova perspectiva de vida.
Como consta no título desta reportagem, Leonice Vercelhese Friedrich, atualmente com 34 anos e PCD (Pessoa com Deficiência) há sete anos. No entanto, essa história começou em outubro de 2015, quando, no auge de seus 26 anos, foi participar de uma festa na vizinha cidade de Maçambará. E o que era para ser um encontro com familiares e amigos, quase se transforma em uma tragédia.
Já no retorno do evento, houve um acidente automobilístico onde Leonice sofreu as lesões mais graves. Entre os ferimentos uma fratura na coluna (vértebra L1) que a fez ficar paraplégica. Desde então, ela percorreu uma longa e sacrificada trajetória. Após o socorro e primeiros procedimentos em São Borja, ela foi transferida para Santa Maria.
O objetivo era uma cirurgia primeiramente para tirar a dor (palavras médicas). Seus familiares mais próximos comentam que os médicos desacreditaram que ela pudesse voltar a ter movimentos ou ficar bem. Porém, em Santa Maria mesmo o diagnóstico mudou, e após a cirurgia Leonice começou a realizar movimentos leves e a apresentar sensibilidade nos membros inferiores.
Primeiro contato com a canoagem
Leonice gostou da canoagem desde o primeiro contato, ainda no Hospital Sarah Kubitscheck.
O médico Daniel Barros, que realizou os procedimentos, ao dar-lhe a alta, sugeriu que ela se transferisse para o Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, que é uma referência em reabilitação de pessoas nessa situação. Entre as ações realizadas, Leonice Friedrich foi atendida pelo Dr. Frederico Ribeiro, que ministra canoagem para pessoas com deficiência, no hospital.
Foi o Dr. Frederico que a encaminhou para o Clube da Aeronáutica, também na Capital Federal, para fazer um teste com um treinador que trabalhava com equipes de canoagem e havia formado várias equipes.
“Na mesma hora ele me aceitou e já marcamos os treinos. Tudo isso em setembro de 2022. Neste vai e vem de treinos o meu treinador, o professor Paulo Ricardo Salomão já me inscreveu em campeonatos que estavam pra acontecer. Esse foi o início de uma reviravolta na vida de Leonice, que “se apaixonou pelo esporte”, afirma.
A primeira competição foi em Formorsa (GO) nos primeiros dias de outubro de 2022. “Nessa ocasião participei de 4 provas conquistando quatro medalhas que foram, uma de ouro nos 500m velocidade de Kayak; uma de prata, nos 200m velocidade Kayak; uma de bronze, nos 500m, velocidade Canoa; e uma de prata nos 200m velocidade Canoa”, comenta ela.
Uma sequência de vitórias
As primeiras vitórias foram fundamentais como incentivo para dar sequência no esporte e já no mesmo mês (out/22) participou da segunda etapa da Copa Brasil de Canoagem e Paracanoagem no Rio De Janeiro. “Dessa vez ganhei uma medalha de prata nos 200m velocidade Kayak”, informa ela.
Leonice segue sua narrativa: “este ano participei do Campeonato de Canoagem e Paracanoagem Maratona em Capitólio (MG). “Neste foram quatro ouros, um nos 3,5km Kayak; outro nos 3,5km Canoa; outro nos 10,5 km Kayak e mais um nos 10,5km Canoa”, comemora.
O campeonato de Maratona valia vaga para o mundial na Dinamarca que acontecerá em Agosto deste ano. “Com isso já sou a campeã brasileira de Maratona na minha categoria KL2 (kayak) e VL3 (Canoa). Isso foi agora em Março mesmo”, informa.
Na sequência, Leonice participou da 1ª. etapa da Copa Brasil de Canoagem e Paracanoagem Velocidade, em Campo Grande (MS). “Neste fui ouro nos 200m kayak e campeã brasileira na categoria KL2”, completa. Esta competição de Mato Grosso do Sul valia pré-vaga para o mundial na Alemanha que acontecerá este ano ainda. A classificação deste mundial ainda depende da 2ª. etapa da Copa que acontecerá em Curitiba no mês de maio.
A busca por patrocinadores
A são-borjense Leonice Friedrich divide seu tempo em treinos, competições e na busca de patrocinadores, já que as despesas para deslocamentos para outros continentes são bastante altas. “Eu tenho moradia em Brasília graças a uma amiga que me convidou. Vivo aqui com minha aposentadoria de um salário mínimo. Para a cobertura dos gastos com as viagens sempre fazemos uma vaquinha com familiares e amigos para ajudar”, esclarece.
Para participar dos campeonatos oficiais, os atletas ganham a hospedagem da Confederação Brasileira de Canoagem e Paracanoagem. “Muitas vezes as passagens terrestres ou aéreas são pelo Compete (programa do Governo do Distrito Federal). Como sou atleta federada por Brasília tenho essas ajudas”, informa Leonice.
A paratleta conterrânea ainda não conta com recursos de patrocínios, bancando as despesas por conta própria. Ela aproveita para deixar seu contato, caso algum empresário local se interesse pelo patrocínio: (55) 999 79 7909. “Ficaria muito agradecida se algum empresário de nossa cidade se dispusesse a ajudar”, conclui.
Texto: Newton Falcão / Jornal O Regional
Foto:Arquivo Pessoal