Uma mulher de 34 anos que atua como mãe de santo é suspeita de ser a mandante de um assassinato em Canoas, na Região Metropolitana. Presa preventivamente desde sexta-feira, ela teria orquestrado a morte do ex-companheiro, um homem transgênero de 38 anos, no início do mês. A vítima teria sido executada porque ameaçou denunciar a compra de um bebê que havia feito ao lado da líder religiosa.
O casal permaneceu unido por cerca de oito meses. Contudo, pessoas próximas a eles afirmam que o relacionamento foi marcado por brigas. A mãe de santo chegou a registrar uma ocorrência de violência doméstica contra o ex-companheiro.
De acordo com a Polícia Civil, a dupla teria comprado um recém-nascido em outubro. A aquisição incluiria o financiamento de despesas, como transporte e hospedagem, de uma gestante vinda de outro estado.
A investigada teria fingido gravidez por meses a fio, tudo com a cumplicidade do então companheiro. O bebê foi registrado como se fosse filho biológico do casal.
A titular da Delegacia de Homicídios de Canoas, Graziela Zinelli, destaca que a verdadeira genitora da criança ainda não foi identificada. Porém, a delegada adiciona que foi comprovado que a gestante fingiu ser a suspeita no momento do parto.
“Através do registro de nascimento, apuramos que o bebê nasceu em meados de outubro e que a gestante teria dado entrada no hospital, já em trabalho de parto, munida apenas de uma ocorrência policial de perda de documentos. Sem identificação, ela ainda se passou pela suspeita na maternidade. A prova disso é que, dias antes, a principal investigada havia registrado o extravio da CNH e do RG. Isso também facilitou, posteriormente, que fosse feito o registro de nascimento em cartório”, explicou a delegada Graziela Zinelli.
Pouco após a conclusão da farsa, o relacionamento do casal chegou ao fim. O ex-companheiro então teria ameaçado divulgar “um grande segredo” da mãe de santo, que tem mais de 140 mil seguidores nas redes sociais. Isso seria a razão do assassinato.
O homicídio ocorreu no dia 7 de dezembro, na rua Itamar de Matos Maia, no bairro Niterói. Ali, desde a separação, o homem trans morava com sua mãe. A suspeita teria ligado para ele e informado que enviaria um veículo de aplicativo para lhe entregar pertences religiosos.
A investigação aponta que, em determinado momento, a mãe de santo avisou que o carro estava quase lá e pediu para que o ex aguardasse na rua. Foi então que surgiu um motociclista que, após uma breve discussão, efetuou quatro disparos contra a vítima e fugiu.
O motoqueiro foi detido na mesma noite dos fatos. Ele seria um discípulo da mãe de santo. Após a prisão, os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão nos endereços dela.
Segundo o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Mario Souza, a verdadeira mãe da criança veio de outro estado, possivelmente do Norte do país. Ela não deixou rastros evidentes da passagem pelo RS, uma vez que usou documentação falsificada para entrar no hospital. O bebê, que está com cerca de 60 dias de vida, foi entregue ao cuidados do Conselho Tutelar.