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Nomeação de Pimenta gera críticas até entre aliados de Lula sobre politização da tragédia no Sul

A oficialização de Paulo Pimenta no ministério extraordinário que cuidará da reconstrução do Rio Grande do Sul, estado pelo qual foi eleito deputado federal e desponta como nome petista à próxima eleição estadual, foi alvo de críticas por parte da oposição, que viu no movimento do presidente Lula uma politização da tragédia ambiental e humanitária. De forma reservada, integrantes do próprio governo admitem que a escolha de Pimenta tem, também, o componente político de se contrapor às ações do governador Eduardo Leite (PSDB), que estaria, na visão dos auxiliares de Lula, obtendo dividendos

Até ontem, a tragédia no estado já havia deixado 149 mortos e 108 desaparecidos. No Planalto, o plano é fazer da reconstrução uma vitrine do governo. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi o mais votado entre os eleitores gaúchos em 2018 e 2022. Antes da oficialização de Pimenta, uma ala chegou a defender o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin para assumir o posto. Mas Lula não embarcou nessa proposta. Uma avaliação feita no Palácio do Planalto é que Alckmin tem um histórico de 30 anos de militância no PSDB, partido de Leite, e também não é do estado. Além disso, em razão de seu estilo contido, o vice-presidente não entraria em embates com o governador se fosse necessário.

Acenos para Leite

Ontem, durante o ato em São Leopoldo (RS) em que anunciou novas medidas de auxílio aos gaúchos, Paulo Pimenta foi oficializado no cargo e apresentado como o ministro que será responsável pela articulação da reconstrução do estado, e fez um aceno a Leite ao dizer que trabalharia em parceria. Destacou ainda que o trabalho do governo federal é “complementar e suplementar ao do governo do estado e das prefeituras”.

— O presidente me pediu muito que tenha exatamente essa dedicação e essa disposição, governador (Eduardo Leite), de colaborar com o governo do estado, com os seus secretários.

Em discurso no mesmo evento, Leite não fez referência a Pimenta, mas defendeu a conciliação:

— Estamos aqui para mostrar que não haverá diferenças políticas, não poderá haver diferença ideológica para superar o momento.

A escolha de Pimenta gerou críticas veladas de aliados e explícitas de oposicionistas. Uma das principais lideranças do partido de Leite, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), disse ver a escolha com preocupação pelo fato de ele ser um “adversário com projetos políticos no estado”.

— Houve uma indelicadeza porque o governador em hora nenhuma foi consultado. Espero até que eu possa estar enganado, mas eu acho, com os desafios que vão vir para frente, ele pode gerar alguns atritos.

O tucano ainda fez referência a uma fala de Lula ontem de que os Poderes “devem funcionar como uma orquestra” no combate à tragédia. Segundo Aécio, nessa orquestra, Lula “quer tocar o bumbo”, mas “não há espaço para politização do drama das pessoas”.

O presidente do PSDB, Marconi Perillo, fez coro e também se queixou do fato de Eduardo Leite não ter sido comunicado. “O que fica parecendo é que a escolha do ministro tem caráter eleitoral, com objetivo de projetá-lo para a campanha de 2026. O que estamos assistindo é, no mínimo, uma falta de compromisso muito grande do governo federal com a população gaúcha, com o estado do Rio Grande do Sul e, em última instância, com a própria democracia brasileira”, afirmou o tucano, em nota.

A senadora Tereza Cristina (PP-MS), partido que tem vaga na esplanada dos ministérios, aponta que a politização da ajuda coloca em risco “a neutralidade e união partidária no Congresso no rápido socorro à crise gaúcha”. “Instala-se um clima de total desconfiança quando alguém do PT com pretensões eleitorais é enviado para um estado governado pelo PSDB”, disse ela nas redes sociais.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, rebateu as críticas pelas redes sociais: “As críticas ao fato de ser um político chegam a ser hipócritas, porque partem exatamente de setores que tentaram explorar politicamente a crise que atinge a população”, afirmou a dirigente.

Além disso, com a saída temporária de Pimenta da Secretaria de Comunicação Social (Secom), aliados de Lula veem uma oportunidade para o governo fazer mudanças na área, que vem sendo criticada após pesquisas apontarem queda na popularidade do presidente. Pimenta, contudo, não pretende se afastar e manterá um gabinete em Brasília. Enquanto estiver no cargo, o jornalista Laércio Portela, que faz parte de sua equipe, comandará interinamente a Secom.

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Em sua terceira viagem ao estado desde o início da crise, Lula esteve em palanque ao lado de Pimenta e outros ministros do governo e chegou a falar que pensava em disputar mais dez eleições, até completar “120 anos” de idade. O presidente anunciou o “Auxílio Reconstrução” para famílias desabrigadas ou desalojadas. O benefício será uma parcela única de R$ 5,1 mil a cerca de 240 mil famílias para a reposição de equipamentos e outros bens perdidos. Durante o evento, o presidente afirmou também que todas as casas afetadas por enchentes e que se enquadrem no Minha Casa, Minha Vida faixas 1 e 2 serão recuperadas pelo governo. Ao lado de aliados e do governador tucano, Lula demonstrou satisfação com a resposta do governo.

— Eu vou viver até 120 anos. Eu já falei para o homem lá em cima: não estou a fim de ir embora, me deixa aqui. Porque eu ainda pensei em disputar umas dez eleições. Ia de bengala disputando eleição. Mas hoje é um dia feliz porque conseguimos no governo aprovar as coisas que precisa aprovar, não é nenhum favor, é necessidade de a gente olhar todos os 203 milhões de brasileiros como irmãos.

Fonte:  O Globo

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