A terceira onda de covid-19 deste ano, causada por uma subvariante “neta” da Ômicron, aumentou em cerca de 260% as hospitalizações de pessoas com Sars-Cov-2 no Rio Grande do Sul no último mês, mostram estatísticas do Ministério da Saúde analisadas por GZH. Para não expor familiares idosos e imunossuprimidos a risco nas festas de Natal e Ano-Novo, médicos pedem que a população atualize o calendário vacinal.
Os dados mostram que Brasil e Rio Grande do Sul vivem nova onda de coronavírus, porém em patamar consideravelmente abaixo de picos anteriores, graças à alta cobertura vacinal. O grande aumento no número de hospitalizados com covid-19 indica aceleração de contágio e rápida propagação do vírus.
Ao longo do último mês, o número de gaúchos internados com coronavírus em leitos clínicos, destinados a casos menos graves, aumentou de 131 para 476 – crescimento de 263%.
Já o número de internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), para pacientes com estado de saúde gravíssimo, passou de 33 para 116 em todo o Rio Grande do Sul, um aumento de 251%. No ápice da pandemia, no verão do ano passado, eram mais de 2,6 mil pessoas em UTIs.
Segundo especialistas, uma mudança se desenha na pandemia: as pessoas não se internam “por” covid-19, mas “com” covid-19.
Apesar do aumento, a maioria dos internados por covid-19 não adoece pela doença: na verdade, adentra o hospital por outro motivo, é diagnosticada com coronavírus e, na sequência, isolada, sem grandes problemas respiratórios, explica a médica infectologista Caroline Deutschendorf, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
HOSPITALIZAÇÕES POR COVID CRESCEM CERCA DE 250% EM UM MÊS NO RS
Uma minoria dos pacientes é que apresenta caso grave de coronavírus — são idosos com idade avançada, indivíduos com sistema imune comprometido (em tratamento contra o câncer, transplantados, entre outros) e pessoas não vacinadas.
— Essa ocupação é muito diferente de 2021, quando as pessoas internavam por covid grave. Hoje, está menos grave inclusive do que em janeiro deste ano. Temos esse número de hospitalizados, mas com menos repercussões. A maioria só fica em leito para covid, mas não precisa de oxigênio. É muito menos provável ter consequência grave, mas todo mundo precisa estar com calendário vacinal em dia, porque essa é a maior proteção contra repercussão grave da doença. E precisamos atentar para sintomas: se alguém tiver sintoma de gripe, que evite contato direto com pessoas mais suscetíveis – diz a médica.
Além do avanço da subvariante BQ.1, para a qual as vacinas seguem protegendo na forma grave do coronavírus, especialistas citam que já transcorreu grande intervalo de tempo da última dose de milhões de brasileiros.
Apesar da grande subnotificação, a curva de casos enfrenta salto de mais de 1.500% em solo gaúcho. A média móvel diária de novos infectados saltou de 334 por dia para 5.442 em um mês, ainda de acordo com dados do Ministério da Saúde. O número de vítimas é baixo, mas também cresceu, passando de duas mortes por dia para nove.
Professora de Epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do comitê de cientistas que assessora o Palácio Piratini em questões sobre covid-19, Suzi Camey pondera que as estatísticas de internações podem estar inflacionadas, mas que é preciso entender se o fenômeno também atinge internações em UTIs.
— O que enxergamos: os números vinham caindo, pararam de cair e passaram a subir. Se isso for critério para nova onda, então temos nova onda. O quanto vai subir, a rapidez e se terá subida de casos graves, não sabemos. Se levarmos em consideração o que aconteceu com varios países europeus, a tendencia é de que esse comportamento já reverta. Em outros países, essa nova durou de quatro a seis semanas — afirma a epidemiologista.
O Rio Grande do Sul segue tendência de aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) entre a população adulta e idosa ao lado de outros 20 Estados, mostra boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado na segunda-feira passada (12). Rio de Janeiro e São Paulo, após enfrentarem nova onda, registram sinais de melhora.