Segundo apuração da Corregedoria da Brigada Militar e da Delegacia de Homicídios, houve também uma tentativa de homicídio. Crimes ocorreram em junho de 2021
Uma operação foi deflagrada na manhã desta sexta-feira (11) em Porto Alegre e em Cidreira, no Litoral Norte, com objetivo de apreender possíveis provas contra nove policiais militares investigados por uma suposta emboscada que culminou no assassinato de uma adolescente de 17 anos e na tentativa de homicídio de outro, da mesma idade. O fato ocorreu em junho de 2021, iniciando no bairro Bom Jesus e terminando no Beco dos Cafunchos, no bairro Agronomia, ambos na zona leste da Capital.
Conforme a investigação, os PMs teriam abordado os adolescentes, familiares de um traficante da região, para obter informações sobre o grupo. Como não conseguiram as respostas, a polícia suspeita que os soldados tenham deixado a dupla no território de outra organização criminosa, acionando os membros dessa quadrilha. A adolescente foi executada, mas a outra vítima conseguiu fugir e procurou as autoridades.
Segundo a Corregedoria da Brigada Militar (BM) e o Departamento de Homicídios da Polícia Civil, responsáveis pela apuração, cerca de 80 agentes cumpriram 11 mandados de busca na Capital e no Litoral, nas casas dos brigadianos, nesta sexta-feira. Há mandados de busca também no 19º Batalhão (BPM), localizado no bairro Partenon.
Todos os suspeitos estavam no 19º BPM na época em que houve a emboscada, mas, atualmente, apenas oito seguem no local. Um deles foi deslocado para outra área.
O que diz a investigação
A investigação das duas polícias apurou que, em junho do ano passado, ocorreu uma abordagem rotineira a um casal, em um posto de combustíveis no bairro Bom Jesus. Um grupo de PMs, em uma viatura, chegou ao local e suspeitou da dupla.
Os policiais acionaram a sede do batalhão para checar as identificações. Os nomes foram confirmados, sendo um deles o de uma adolescente com mandado de apreensão por ato infracional. A outra pessoa também era um adolescente, mas, em princípio, sem mandado de apreensão, mas com atos infracionais por homicídio, receptação, furto e porte ilegal de arma de fogo.
Conforme o inquérito, eles eram familiares de um dos líderes do tráfico na região e integrante de uma facção criminosa. A polícia apurou, inclusive, por intermédio de imagens de câmeras de segurança, que a adolescente foi colocada dentro da viatura e que outro veículo do batalhão foi acionado. Logo na sequência, mais PMs chegaram ao local e colocaram o outro adolescente em outra viatura.
Os policiais ficaram algumas horas trafegando por diversas vias da cidade com os dois e, segundo a investigação, acredita-se que estariam indagando a dupla sobre a possível localização de armas, drogas e até de foragidos.
A delegada Isadora Galian, titular da 1ª Delegacia do Departamento de Homicídios, acredita que uma das possibilidades é de que os PMs não tenham conseguido as respostas que queriam e, por isso, decidiram deixar a dupla no Beco dos Cafunchos, que é território de uma facção rival do grupo instalado no Bom Jesus. Além disso, teriam entrado em contato com integrantes dessa organização criminosa para informar que a dupla estava na região — imagens de câmeras de segurança foram obtidas sobre este fato.
Depois disso, criminosos abordaram a dupla, e a adolescente foi morta a tiros. O outro conseguiu fugir e, no mês seguinte — em agosto —, procurou a Polícia Civil.
— A jovem, que tinha mandado de apreensão contra ela por ato infracional, morreu após diversos disparos de arma de fogo, e o jovem só conseguiu fugir porque os atiradores se assustaram com um barulho de sirene. Nesse momento, ele se atirou em um “valão” e escapou. Atiraram contra ele, mas erraram. Depois ele nos procurou e agora é nossa principal testemunha. Além disso, obtivemos imagens e demais provas — diz Isadora.
Um inquérito foi instaurado, e a Corregedoria da BM foi acionada, também instaurando um procedimento de investigação interno. Por enquanto, não foi divulgado pela corporação se os nove militares foram afastados das funções.
Os crimes apurados são homicídio doloso qualificado, com intenção, e por motivo fútil, mediante emboscada que impossibilitou a defesa da vítima, além de tentativa de homicídio. Os nomes dos PMs só serão revelados após a conclusão da investigação. A investigação continua para apurar as ações suspeitas dos soldados, mas também para identificar os autores dos disparos que atingiu a adolescente.
Fonte e foto: GZH