Pedro Ortaça, aos 81 anos, é reconhecido como o último Tronco Missioneiro, um grupo de artistas que desempenhou um papel fundamental na criação de uma identidade musical regionalista no Rio Grande do Sul. Junto com Noel Guarany, Cenair Maicá e Jayme Caetano Braun, Ortaça ajudou a valorizar a história do estado e a trazer críticas sociais através de suas músicas.
Nascido em São Luiz Gonzaga, nas Missões, Ortaça se tornou uma figura lendária no cancioneiro gaúcho. Suas canções, como “Timbre de Galo”, “Bailanta do Tibúrcio” e “Queixo Duro”, se tornaram clássicos da música regionalista.
Desde criança, Ortaça demonstrava aptidão para a música. Seu avô, Quintino Martins dos Santos, era um gaiteiro, e sua mãe tocava acordeona, enquanto seu pai tocava violão. Foi no colégio Senador Pinheiro Machado, em São Luiz Gonzaga, que ele começou a cantar, sentindo algo especial em sua voz.
No entanto, Ortaça também teve que trabalhar duro desde cedo. Aos 15 ou 16 anos, ele foi para São Borja trabalhar numa granja de arroz, cortando arroz com foice. Ele lembra com orgulho da época em que trabalhava manualmente, sem o auxílio de máquinas.
Apesar de nunca ter pensado em se tornar um artista, Ortaça naturalmente seguiu sua paixão pela música. Começou a cantar em bailes de campanha, reuniões de amigos e galpões da sua terra natal. Ele se inspirava nas histórias e experiências compartilhadas pelos mais velhos. Suas músicas retratam as necessidades e injustiças do ser humano, além de valorizar a história e cultura do Rio Grande do Sul.
Ortaça ressalta a amizade que tinha com Noel, Cenair e Jayme. Eles se apoiavam e defendiam uns aos outros. Ao contrário da maioria das músicas da época, que falavam apenas sobre bailes e senhores da terra, o grupo abordava questões sociais e históricas, como a situação dos índios, negros e pobres. Eles acreditavam na importância de cantar sobre as injustiças e lutar pelos menos favorecidos.
A música missioneira de Ortaça ultrapassou as fronteiras do Rio Grande do Sul e se espalhou por todo o Brasil. Ele se orgulha do reconhecimento que recebe e da recepção calorosa do público, que inclui pessoas de todas as idades. Mesmo aos 81 anos, Ortaça planeja continuar cantando e criando novas músicas.
Ele reconhece que a idade pode afetar sua performance no palco, mas o carinho e aplauso do público o impulsionam a continuar. Para Ortaça, cantar é uma paixão que vem de dentro, de um lugar desconhecido. Ele agradece a Deus por esse dom e por toda a alegria que a música lhe proporciona.
Fonte: GZH