Os produtores de leite do Rio Grande do Sul solicitaram ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, providências urgentes para barrar a importação de lácteos pelo Brasil. O pedido foi feito pessoalmente pelo presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, durante a abertura da 23ª Fenarroz, cuja solenidade oficial ocorreu ontem em Cachoeira do Sul. “Vamos formalizar a sugestão de sobretaxar a importação dos produtos lácteos por um tempo específico até que possamos reequilibrar o mercado aqui dentro”, adiantou Silva. O documento formal, que atende solicitação do próprio ministro, pedirá a reedição de uma medida, segundo Silva, adotada na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. “Em 2011 ou 2012, os produtos foram sobretaxados em 17% por cinco ou seis meses para que os preços reagissem no mercado interno”, lembrou.
O pedido, que teve origem na Comissão Estadual do Leite da Fetag-RS, é justificado nos números Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Conforme a plataforma Comex Stat, nos cinco primeiros meses do ano, as aquisições de leite em pó, creme de leite e laticínios (exceto manteiga e queijo) de outros países cresceram 247,9% em comparação com o mesmo período do ano passado. No intervalo, foram adquiridas 92,2 mil toneladas, resultado de 350,5 milhões de dólares, valor 292,8% maior que o despedido pelo país nos primeiros cinco meses de 2022.
O secretário-executivo Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS), Darlan Palharini, recorda que o alerta vem desde o início do ano. “Na Páscoa, o leite em pó usado pelas indústrias de chocolate do Brasil veio da Argentina e do Uruguai. Não há outra altenativa se não não cair o preço ao produtor”, ressaltou. Contudo, Palharini aguarda os movimentos de mercado que vão balizar a remuneração do leite em julho. “Vamos ver o que vai acontecer. O governo estadual e o federal não estão fazendo nenhuma equalização quanto aos benefícios recebidos pelos produtores da Argentina ou a incentivos para as exportações”, disse.
O Rio Grande do Sul figura, agora, como o segundo Estado que mais comprou lácteos de fora de janeiro a maio, atrás apenas de São Paulo.
Gadolando defende regulação de mercado
Os números crescentes de importação de lácteos eleva a preocupação entre os produtores, como dos criadores da raça Holandesa. “Os números são dantescos, é gravíssimo, somos moeda de troca no Mercosul e esse comércio não vai parar, mas tem que ter uma regulação, seja em tonelada importada ou em taxação. É uma questão de soberania”, afirma o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês no RS (Gadolando), Marcos Tang. “Estamos comprando leite para nosso consumidor ter produto barato, mas não podemos matar o produtor em nome de alguns centavos a menos na gôndola do supermercado”, conta Tang, relatando que tem sido procurado diariamente por produtores que já não sabem o que fazer.
O dirigente conta um diálogo que teve com o pai há pouco dias sobre a crise do setor. “Meu pai tem 81 anos e falei pra ele que o preço do leite ia baixar, mas ele disse: não, nesta época, desde que sou produtor de leite, a vida inteira, o leite sempre aumenta”. Tang manifesta extrema preocupação com o cenário atual e diz que os números vão se refletir no campo, com mais desistências da atividade. “Nos últimos anos 22 mil famílias pararam de produzir leite. Na minha cooperativa, baixou em 17 centavos o preço pago ao produtor, outras baixaram 20, 30 até 40 centavos, e essa é uma época em que teríamos uma remuneração melhor pelo litro de leite”, diz o presidente da Gadolando.
Fundoleite será pauta da Assembleia Legislativa
A Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo da Assembleia Legislativa do Estado confirmou que o convite feito aos representantes do Estado para explicar sobre os recursos do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite (Fundoleite) foi realizado para reunião do próximo dia 22 de junho. A iniciativa do deputado Elton Weber (PSB) abrange a Secretária da Agricultura (Seapi), a Casa Civil e a Procuradoria Geral do Estado (PGE).
Desde 2020, o Estado não libera recursos do fundo, estimados pela cadeia produtiva leiteira em R$ 30 milhões.
O objetivo do Fundoleite é custear ações, projetos e programas de desenvolvimento da cadeia produtiva, mas a falta de repasse de recursos afeta o avanço de projetos e até a realização da pesquisa mensal do Preço de Referência do Leite, divulgada pelo Conseleite/RS, realizada pela última vez em janeiro deste ano.
O deputado lembra que a cadeia leiteira gaúcha registrou o abandono de mais de 50 mil produtores entre 2015 e 2023, segundo dados da Emater e do Sindilat. Atualmente, teriam restado 35 mil agricultores em atividade no Estado.
Fonte: Correio do povo