Depois de quase 77 anos, a Rádio Cultura de Bagé saiu do ar na madrugada da última quarta-feira (17). Com problemas financeiros e dificuldades para regularizar a concessão, o empresário Odilo Dal Molin decidiu encerrar as atividades. Ele conta que comprou a emissora há mais de 20 anos, mas nunca conseguiu a transferência no Ministério das Comunicações.
Dal Molin diz que pagou as indenizações para todos os funcionários, ficando pendente apenas a dívida com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), que cobra direitos autorais de músicas. Agora, o empresário pretende dar baixa na firma.
A Rádio Cultura 1470 AM, prefixo Z.Y.G-4, foi a primeira de Bagé. Em 4 de julho de 1946, iniciou as transmissões na Rainha da Fronteira. De acordo com o professor de jornalismo e pesquisador Luiz Artur Ferraretto, a emissora fez parte do primeiro grupo de comunicação voltado à radiodifusão no Rio Grande do Sul. Atahualpa Dias implantou, a partir de 1933, as rádios Cultura em Pelotas, Rio Grande, Bagé, Santana do Livramento e Jaguarão.
Pelos microfones da Cultura, “A Pioneira”, passaram grandes nome do rádio no interior do Estado. Nos primeiros tempos, o radioteatro estava em destaque da programação. Um programa que fez muito sucesso foi o “Corrente da Solidariedade”. Na música gaúcha, um sucesso antigamente era o “Céu e Chão da Querência”.
Na terça-feira (16), o radialista Edgar Muza apresentou seu último programa na Rádio Cultura de Bagé, que transmitia no 1460 AM e 107.5 FM. Ele começou a trabalhar na emissora em 1958. Depois de uma pausa entre 1963 e 1969, voltou à emissora para criar o programa “Visão Geral”, que completou 54 anos no ar.
— O fim da Rádio Cultura é como perder um filho – compara Muza.
Outro radialista triste com o fechamento é Geraldo Saliba, que completou 35 anos na emissora. Saliba, Muza e outros colegas da Cultura não ficarão fora do ar por muito tempo, já que levarão os programas para uma rádio comunitária da cidade.
Integrante da Rede Gaúcha Sat, a Cultura retransmitia programas da Rádio Gaúcha. Lembro de apresentar duas edições do Correspondente Ipiranga no estúdio da emissora, em Bagé, em 2006. Na maior parte do tempo, a rádio ficou em um prédio da Avenida Sete de Setembro, de onde saiu pela última vez há um ano. Na fachada do imóvel de dois andares, está o nome da Rádio Cultura.
Sobre a chance de reabrir a Rádio Cultura, Dal Molin disse que um interessado na emissora o procurou depois do anúncio do fechamento. O empresário afirma que encaminhou toda documentação para análise.
O tempo dirá se a emissora ficará somente na memória dos ouvintes de Bagé.
Fonte: GZH.