A Polícia Civil obteve imagens do empresário Jailson Ferreira da Silva saindo de casa na terça-feira (12) minutos antes de policiais chegarem ao local para cumprir mandado de prisão preventiva contra ele — as ordens judiciais são cumpridas pela polícia a partir das 6h. Câmera de segurança captou o momento quando, às 5h11min, o empresário entrou no elevador usando bermuda e camiseta e carregando uma mochila e um telefone celular. Às 5h15min, uma caminhonete BMW dirigida por ele teve a imagem captada por câmera de segurança ao sair do prédio, em Porto Alegre.
O veículo pertence à mulher do empresário. Jailson está com prisão preventiva decretada pela nova fase da Operação Capa Dura, que investiga supostos crimes de fraude licitatória, associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva e ativa na Secretaria Municipal da Educação da prefeitura de Porto Alegre. Em certidão entregue à Justiça, a polícia registrou que Jailson estava “claramente empreendendo fuga do local de residência”.
A polícia considera o empresário foragido e vai apurar as circunstâncias que levaram o alvo a sair de casa naquele horário e a não se apresentar à polícia até o momento. Na quarta-feira (13), um dia depois da ação, o advogado de Jailson, Nereu Giacomolli, disse à Zero Hora que a orientação da defesa é para que o empresário se apresente, o que não ocorreu ainda.
As imagens captadas por câmeras do prédio e uma certidão detalhando a situação encontrada na casa de Jailson no momento em que policiais tentaram fazer a prisão foram entregues à Justiça pela equipe da investigação da 1ª Delegacia de Combate à Corrupção. Os agentes foram atendidos no apartamento pela mulher do empresário, que informou que ele havia saído para caminhar, o que, segundo ela, ele faz costumeiramente. A partir da informação, policiais fizeram buscas no condomínio e nas proximidades do prédio, sem sucesso.
A portaria informou a eles que nenhum morador havia saído a pé naquele horário. A polícia ainda fez buscas em outros endereços, mas não localizou o empresário.
Na certidão que está na Justiça, os policiais informaram que houve tentativa de ligar para o celular do empresário, mas que o telefone estava desligado. Também foi registrado que o advogado e a mulher do empresário foram informados sobre o teor da medida, ou seja, de que havia ordem judicial de prisão contra ele.
Conhecido como Jajá no meio político e empresarial, Jailson representou duas empresas que fizeram seis vendas de livros e de laboratórios de ciências e matemática à Smed em 2022. O custo total das negociações foi de R$ 43,2 milhões e a suspeita é de que o grupo econômico de Jailson foi beneficiado por direcionamento das compras. Também teria ocorrido pagamento de vantagem indevida a agentes políticos.
Deflagrada na terça-feira (13), a terceira etapa da Capa Dura, chamada Prefácio, busca esclarecer como agentes políticos teriam intermediado a aproximação de Jailson Ferreira da Silva com a prefeitura de Porto Alegre.
O ex-vereador Alexandre Bobadra (PL), afastado das funções públicas de policial penal e alvo de busca e apreensão na ação, teria intermediado uma reunião sobre educação no gabinete do prefeito Sebastião Melo em 9 de julho de 2021. Na data, Bobadra compareceu ao encontro levando Jailson e um sócio dele.
Eles apresentaram kits de robótica na ocasião, em encontro com o prefeito e outros integrantes do primeiro escalão. Oito meses depois, em março de 2022, Sônia da Rosa assumiu a titularidade da Smed e deu início às compras das empresas vinculadas a Jailson, somando mais de R$ 43 milhões em contratos. As investigações apontam que, além dos supostos direcionamento e pagamento de vantagem indevida, não teria ocorrido planejamento para a aquisição dos materiais escolares, tanto em qualidade quanto em quantidade.
O vereador em exercício Pablo Melo (MDB) também foi alvo de mandado de afastamento das funções públicas por 180 dias e, na quarta-feira, a polícia fez buscas em endereços dele e no gabinete na Câmara de Vereradores. Ele também é suspeito de intermediar a aproximação entre o empresário Jailson e a Smed e estava na reunião em 2021. Pablo é filho do prefeito Sebastião Melo, que não é investigado.
Ainda na terça-feira, foram presos preventivamente um ocupante de cargo em comissão (CC) na Procuradoria-Geral do Município (PGM), Reginaldo Bidigaray, e o advogado Maicon Callegaro Morais, que já atuou em diferentes órgãos da prefeitura de Porto Alegre e, atualmente, não exerce função pública. Até a tarde desta quinta-feira, eles seguiam presos.
Na casa de Morais, foram encontrados US$ 13 mil, cheques com valores altos, ouro, dois relógios Rolex e uma pistola. A arma é legalizada. Além de Bobadra, foi afastado da função pública Mateus Viegas Schonhofen, também ocupante de cargo comissionado na PGM por suspeita de envolvimento com o caso. Ele é tesoureiro do MDB de Porto Alegre.
As apurações da Polícia Civil foram iniciadas após reportagens do Grupo de Investigação da RBS (GDI) terem revelado, a partir de junho de 2023, o desperdício de material escolar em depósitos e em escolas da Capital. Na sequência, o GDI mostrou o suposto direcionamento de compras da Smed para o grupo econômico representado por Jailson.
Contrapontos
O que diz Nereu Giacomolli, advogado de Jailson Ferreira da Silva:
“Ainda não obtivemos acesso à decisão que decretou a prisão preventiva. Assim que soubermos dos motivos, vamos questionar a prisão no Tribunal de Justiça”.
Fonte: GZH