José Olímpio Berrio Liota, motorista de 53 anos, carrega há 7 meses os documentos para tentar provar que a casa em que vive com o pai de 88 anos foi inundada nas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024. Ele insiste na luta para receber o auxílio de R$ 5,1 mil pago pelo governo federal às pessoas atingidas.
Até o início de dezembro, o morador de Mariante, distrito de Venâncio Aires (RS), só recebeu “não” como resposta nas duas tentativas de conseguir o auxílio para ele e para o pai, José Alves Liota. Na primeira delas, se deparou com um pedido feito antes para o mesmo endereço, duplicidade que não foi causada por eles.
Na tentativa mais recente, o documento que recusa seu pedido diz que o “o endereço informado não se encontra na área diretamente afetada”. Segundo o motorista, a situação é uma ironia, já que sobram provas de que a água atingiu a casa. Ainda há uma terceira solicitação aberta, sem resposta até a publicação desta reportagem.
Mais de 2 mil famílias de Venâncio fizeram o pedido e receberam o auxílio-reconstrução, segundo o governo Lula (PT) — entre eles o vizinho da frente dos Josés pai e filho, seu Osmar. O valor distribuído chega a quase R$ 12 milhões. Ao todo, os recursos federais destinados ao município somam mais de R$ 200 milhões, segundo dados da Secom.
Sem o benefício, José filho mostra as marcas da enchente que abalou Mariante e que estão há 7 meses na estrutura do imóvel, com paredes rachadas e pintadas pela lama marrom.
Secretário da reconstrução do Governo Federal no RS, Maneco Hassen afirma que a revisão solicitada pelos Josés pai e filho não chegou até a União. Quem envia os documentos ao governo federal são os respectivos municípios em que as pessoas vivem — o g1 questionou a Prefeitura de Venâncio sobre o caso dos Josés, mas não recebeu retorno até a publicação da reportagem.
“Esse senhor não fez o pedido de recurso ou, se fez, a Prefeitura ainda não concluiu — ou seja, ainda não enviou. Se ele pediu, a Prefeitura ainda está no prazo de enviar”, explica Hassen. O prazo se encerra no fim de dezembro.
Sobrevivente em dose dupla
O pai de 87 anos, José Alves Liota, sobreviveu à inundação e sofre ao ver a casa onde morou tomada pelas marcas da tragédia. Segundo ele, a enchente passou 1 metro sobre a casa.
Além de seu relato, também há imagens, como registros feitos pelo g1 dias após a enchente da madrugada de 2 de maio de 2024. Uma dessas imagens mostra a casa de pai e filho ainda submersa, alagada até a marca da janela. Veja abaixo:
O que diz o governo
Governo estadual – Eduardo Leite (PSDB)
Ao g1, o governo do Rio Grande do Sul afirmou que promoveu ações na região de Venâncio Aires “desde os primeiros dias da enchente”, com repasses que somam R$ 7,9 milhões em recursos para a cidade, entre benefícios sociais às famílias, apoio a empresas locais, reformas de hospitais, unidades de saúde, de educação e infraestrutura.
Sobre o auxílio ao município e aos moradores atingidos, o governo Leite afirma que foram feitos repasses de R$ 7,9 milhões à região de Venâncio Aires, entre kits de alimentos, auxílio abrigamento e devolução de impostos.
“Em Venâncio Aires, o programa Volta por Cima beneficiou em 386 famílias desabrigadas ou desalojadas, inscritas no CadÚnico em pobreza e extrema pobreza, com parcela única de R$ 2,5 mil, totalizando R$ 965 mil”, diz o governo.
Governo federal
Ao g1, o governo federal afirma que destinou até o dia 13 de dezembro mais de R$ 200 milhões em recursos para Venâncio Aires (RS), entre valores para o cuidado com as pessoas, apoio às empresas e medidas gerais para o município.
O governo Lula estima em R$ 58,5 bilhões o total de verbas destinadas para a reconstrução do Rio Grande do Sul após as enchentes de maio.