Por: Isaac Carmo Cardozo – Colunista
A Brigada Militar tem um legado histórico digno de ser perpetuado e disseminado. Seus feitos são o principal motivo de termos hoje uma instituição forte, alicerçada na hierarquia e na disciplina.
Durante uma apresentação no Curso Básico de Administração da Brigada Militar, no ano de 2024 — curso que habilita à promoção ao posto de 1º Tenente —, ouvi atentamente meus colegas “choqueanos” 1º Sgt Danildo (PS61) e 1º Sgt Rudsom falarem sobre o atirador designado policial e o atirador policial de precisão (sniper). Eles relataram a origem dessa função e sua adaptação à atividade policial na rotina atual. Como tenho o hábito de buscar compreender a evolução da Brigada Militar e, assim, enaltecer nossos antepassados, li duas obras que me remeteram diretamente a esse tema.
Ao concluir a leitura da importante obra “Triste Fim de Gumercindo Saraiva”, do escritor e professor Cláudio Damim, chamou-me a atenção a forma como o líder maragato tombou no campo de batalha, no Capão do Carovi, na região missioneira — muito próxima de São Borja. Ele foi morto por um franco-atirador da Brigada Militar na Revolução de 1893. Embora a instituição ainda não contasse com uma equipe especializada, o disparo foi feito por um atirador de precisão.
Damim destaca que muitos comandantes que estavam naquele teatro de guerra tentaram reivindicar os louros pela morte do grande líder maragato. Entre os relatos desses coronéis, o que mais se destaca é o do Cel. Bento, que menciona os “tiros de pontaria” realizados por um soldado da reserva, prisioneiro da Lapa, que havia passado a integrar a Divisão do Norte. Sabia-se que a figura de Gumercindo era a estrela-guia dos maragatos, e sua morte certamente traria desorientação aos seus seguidores. Tanto é que, conforme consta na obra, ao vê-lo ferido, os maragatos bateram em retirada, mesmo estando em vantagem numérica.
Já no livro “Notícias dos Combates de Capão do Mandiju e Estância dos Figueiredos”, do meu conterrâneo Fernando O. M. O’Donnell, é relatado o confronto entre chimangos e maragatos aqui na fronteira na Revolução de 1923. Os chimangos, integrantes do 7º Corpo Auxiliar da Brigada Militar de São Borja, sob o comando do Tenente-Coronel Deoclécio Dornelles Mota, enfrentaram as forças maragatas lideradas pelo Coronel Aníbal Padão no Capão do Mandiju, este também ligado a nossa fronteira.
Fernando relata que a coluna de Aníbal Padão marchava em direção a Santiago, enquanto o 7º Corpo da Brigada Militar estava acantonado no capão. Aníbal não evitou o confronto, indo ao encontro do inimigo. A escaramuça foi intensa, com cargas de cavalaria por parte dos maragatos e rajadas de metralhadora por parte dos chimangos. Sempre à frente das cargas estava Aníbal Padão, que acabou atingido por um projétil que perfurou seu peito. Ainda assim, não abandonou o campo de batalha, vindo a morrer neste combate.
Resta a dúvida: teria sido um tiro de precisão ou uma bala perdida? Em minha análise, foi um tiro de pontaria. Isso porque ambas as forças eram oriundas da fronteira — São Borja e Itaqui —, eram adversários políticos e, portanto, se conheciam muito bem.
Duas conclusões emergem desses fatos: primeiro, os autores dos disparos permanecem no anonimato histórico, enquanto os louros das batalhas recaíram sobre seus comandantes; segundo, mesmo que isso seja um consolo, demonstra que a Brigada Militar é formada por homens corajosos e comprometidos com a causa. Embora os condecorados sejam os líderes, sabemos que as grandes vitórias sempre estiveram atreladas ao esforço e à bravura dos militares que estiveram diretamente no teatro de operações.
Isaac Carmo Cardozo é 1°Sargento da Brigada Militar, Bacharel em Direito pela Unilassale/Canoas, Especialista em Gestão Pública pela UFSM/Santa Maria e Mestre em Políticas Públicas pela Unipampa/São Borja. Escreveu o livro: Monitoramento de Políticas Públicas de Segurança – O Programa de Resistência às drogas e a violência (Proerd) no Município de São Borja. Tradicionalista, é Coordenador da Invernada Especial do Centro Nativista Boitatá. Historiador e pesquisador e apaixonado pela cultura do Rio Grande do Sul.