Um familiar de Kauany Martins Kosmalski, que foi morta junto do filho, um bebê de dois meses, e de um amigo em Esteio, na Região Metropolitana, relatou que a relação da jovem, de 18 anos, com os suspeitos do crime era próxima. Conforme o parente, que preferiu não se identificar, ela se referia a eles como “pai e mãe”.
— Desde quando ela tinha 16 anos, mais ou menos, sempre visitava eles. Eles já vieram uma vez aqui, pedir autorização para ela poder frequentar a casa de religião deles. E foi autorizado, porque era só amizade. Ela chamava a mulher de mãe e ele de pai — relata.
O pai de santo Jocemar Antunes de Almeida, 46 anos, e a esposa dele, Belisia de Fátima da Silva, 41, estão presos após confessarem participação no crime, de acordo com a Polícia Civil.
Jocemar assassinou Ariel Silva da Rosa, de 16 anos, amigo da jovem a facadas, e Belisia matou Kauany, da mesma forma, conforme a investigação. Ainda não está claro como o bebê, Miguel, foi morto — o corpo foi encontrado em um cobertor sobre o corpo da mãe. Análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP) deve confirmar a causa da morte.
“Eu lavei todas as roupinhas dele (do bebê), dobrei, então, é complicado. Ainda não caiu a minha ficha, porque eu ainda não vi o caixão, mas eu sei que vai ser complicado — diz o familiar.
Mãe de Kauany foi morta em 2021
A mãe de Kauany foi morta em 2012 pelo companheiro, que não aceitava o fim da relação. Desde então, a jovem vivia sob a guarda de uma tia.
O familiar também explica que, apesar de muito nova, Kauany era principal responsável pelos cuidados com o filho. A família de Kauany procurou a polícia após notar o desaparecimento de ambos no domingo (20).
— Ela era mãe, amava ele, dava pra escutar, assim, chamava meu pitoquinho. (…) Ela não voltou na segunda, daí a gente já começou a estranhar. Ficou leite, ficou fralda, ficou roupa, ela não levou nada — lembra o parente.
Motivação do crime
Segundo a polícia, as mortes foram motivadas pelo medo que o suspeito do crime, um pai de santo, tinha de perder a posição de líder religioso caso a traição vazasse. Além disso, para a investigação, a esposa dele também teve envolvimento no crime por ciúmes.
— A motivação para nós é bem evidente: ciúmes por parte da esposa do pai de santo e, por parte do pai de santo, é o medo de perder a propriedade como líder religioso — afirma a delegada Marcela Smolenaars, responsável pelo caso.
— Não é a religião que está por trás da motivação. Existia um líder religioso que praticou, tinha uma situação de relacionamento íntimo, um bebê, um filho fora do casamento, um cenário de ciúmes, um cenário de manter a aparência como líder religioso e aí sim a prática de um crime para proteger aquilo — complementa o delegado regional Cristiano Reschke.
Kauany teria ameaçado contar sobre o bebê para a esposa do pai de santo. Os parentes também informaram que Jocemar teria dito para a mulher que, para ela ter sucesso nas atividades religiosas, precisava manter relações sexuais com ele.
— O Jocemar, sendo pai de santo, teria induzido ela no sentido de dizer que, como ele era um líder espiritual, deveria ter relações sexuais com ela para purificá-la — afirma o delegado.
Suspeito está preso preventivamente
Jocemar está preso preventivamente. Belisia está detida sob custódia na delegacia de Esteio.
Os dois devem responder por feminicídio triplamente qualificado (na presença do filho, de maneira cruel, com traição de confiança e emboscada), homicídio quadruplamente qualificado e corrupção de menores. O pai de santo deve responder ainda por violação sexual mediante fraude.
Dois adolescentes, de 15 e 17 anos, foram apreendidos por envolvimento no crime. Eles teriam sido influenciados pelo pai de santo a ajudar a ocultar os corpos das vítimas, conforme a polícia.
— Eles sequer conseguem entender que o que fizeram é errado devido à influência do pai de santo, líder da religião que eles participavam — conta a delegada Marcela.
O crime
O crime aconteceu no domingo (20) e os corpos das três vítimas foram localizados numa vala coberta por pedaços de madeira na terça-feira (22).
Policiais foram até a casa do pai de santo, que aparentou nervosismo e confessou o crime — mas disse que ele tinha sido o responsável pelos assassinatos e que os adolescentes tinham ajudado a ocultar os corpos, inocentando a esposa.
Foi ele que levou a equipe policial até onde os corpos das vítimas foram escondidos. Ele foi preso em flagrante e os adolescentes foram apreendidos.
Ele contou aos policiais que Kauany e Ariel foram mortos a facadas em um ponto de encontro marcado com as vítimas e, depois, os corpos foram colocados em um carro para, finalmente, serem escondidos na vala.
No entanto, na noite de terça, a casa da esposa do pai de santo foi incendiada. Segundo a polícia, veio a público que o bebê morto era fruto da relação entre o pai de santo e Kauany. A mulher, com medo, procurou uma delegacia de polícia e acabou confessando envolvimento no crime.
Contraponto
Segundo a polícia, os dois ainda não tinham defesa constituída, até a mais recente atualização desta reportagem. A Defensoria Pública do Estado acompanhou Jocemar durante a audiência de custódia.
Fonte: GZH