Coluna de Isaac do Carmo – Andresito Artigas: Herói ou Vilão para São Borja?

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Obra do Rafael Rossini

Por: Isaac do Carmo Cardozo – Colunista

A figura de Andresito Artigas, amplamente reconhecida na Argentina e no Uruguai, parece ainda não ter alcançado a aceitação que merece em São Borja, sua terra natal. Índio Guarani, nascido provavelmente no bairro Paraboi, Andresito possui uma importância imensa para a história deste continente — sim, deste continente.

Recentemente, em uma conversa com pesquisadores e historiadores locais, surgiu a velha polêmica: seria Andresito Artigas um herói ou um vilão para São Borja? Um dos debatedores foi enfático ao chamá-lo de “bandoleiro”, afirmando que ele havia cercado a cidade. Defendi, por outro lado, que esse guerreiro Guarani foi tão importante quanto Sepé Tiaraju e que mereceria, inclusive, uma estátua ainda maior do que aquela erguida em sua homenagem na Argentina.

Mas para chegarmos a um juízo justo, é preciso revisitar sua história.

Origem e Formação

Segundo o historiador Gustavo Barrozo, André Guacurarí era de etnia Guarani, criado e educado pelos jesuítas. Em sua juventude, ganhou o apelido de “Andresito”. Era de baixa estatura, pele cor de cobre, maçãs do rosto salientes, olhos negros e melancólicos. Valente, supersticioso e determinado, foi adotado por José Gervásio Artigas em 1811, que o tratou como filho e lhe concedeu o sobrenome.

O autor Salvador Cabral, na obra Andresito Artigas: En la Emancipación Americana, confirma que Andresito nasceu em São Borja, na margem leste do Rio Uruguai, em 30 de novembro de 1778. Sua mãe, assim como as testemunhas de seu nascimento, jamais imaginaram que aquele menino recém-nascido carregaria em seu nome a profecia de que se tornaria chefe e líder de um povo. Mas foi o que aconteceu.

O Líder Guarani

Andresito tornou-se um líder nato, sendo governador da Grande Província das Missões entre 1815 e 1819, território que englobava parte da atual província argentina de Misiones. Sua luta não era apenas militar, mas profundamente política e cultural: combatia a centralização de poder em Buenos Aires, era contra as invasões portuguesas e defendia a autonomia das províncias através de um sistema confederado. E, acima de tudo, lutava pela preservação da identidade Guarani.

O Cerco a São Borja

Segundo Barrozo, Andresito, à frente de milhares de guerreiros Guaranis e tropas de Corrientes, atravessou o Rio Uruguai e ocupou os Povos das Missões — exceto São Borja. Seu objetivo era reincorporar a região dos Sete Povos (então sob domínio português) à Banda Oriental, da qual era governador. São Borja era estratégica tanto militar quanto economicamente.

Cercou a cidade na tentativa de rendê-la pela fome. Do outro lado, o cruel General Chagas Santos resistia. A espera de Andresito deu tempo para a chegada de reforços liderados pelo Tenente Coronel José de Abreu, a mando do General Curado que estava acampado em Ibirapuitã. O resultado foi desastroso: Andresito sofreu baixas significativas e teve que recuar.

Mais tarde, foi derrotado nos arredores de Itacurubi. Perseguido por tropas portuguesas, acabou sendo capturado, quando tentava atravessar o Rio Uruguai próximo a Santo Isidro, por um grupo de quinze granadeiros do Regimento de Santa Catarina, tendo como comandante o Sargento Joaquim Antônio de Santiago.

A Espada e o Fim

Uma curiosidade é que Andresito, apesar de sempre guerrear com uma lança — como reconhecido na cultura popular — foi capturado portando uma espada. Segundo Barrozo, essa arma foi enviada como troféu de guerra ao rei Dom João VI no Rio de Janeiro. Nunca mais se teve notícia dessa relíquia.

O fim de Andresito permanece um mistério. Alguns dizem que foi assassinado e seu corpo jogado ao mar. Outros afirmam que morreu em briga. Há ainda versões romantizadas de que teria sido libertado e retornado ao Uruguai, onde formou família. No entanto, a versão mais aceita é que ele tenha sido executado. Afinal, um ex-governador da Banda Oriental e líder popular representava uma ameaça à ordem colonial.

Legado e Reconhecimento

Na Argentina e no Uruguai, Andresito Gacuraí y Artigas é reverenciado como herói. No Brasil, especialmente em São Borja, ainda paira sobre ele a sombra do vilão. Mas é preciso entender que sua luta estava alinhada à revolução de José Gervásio Artigas: uma guerra de independência, de descentralização do poder, e de defesa da cultura indígena.

Quantas vezes exaltamos chimangos e maragatos, sem considerar os lados da história? Andresito lutou pela libertação do povo Guarani, que há séculos era passado de mão em mão — da Espanha para Portugal, e vice-versa. Deixou um legado que resiste ao tempo e merece ser lembrado.

Por isso, me alegro ao ver que juntamente com o saudoso Ramão Aguilar — e com apoio do amigo Fred Janot, uma praça em um loteamento da cidade passou a levar seu nome. É um gesto simbólico, mas que pode ser o início de uma reparação histórica. Que São Borja, terra de tantos vultos e vozes, também reconheça o filho Guarani que sonhou em libertar seu povo.

Isaac Carmo Cardozo é 1°Sargento da Brigada Militar, Bacharel em Direito pela Unilassale/Canoas, Especialista em Gestão Pública pela UFSM/Santa Maria e Mestre em Políticas Públicas pela Unipampa/São Borja. Escreveu o livro: Monitoramento de Políticas Públicas de Segurança – O Programa de Resistência às drogas e a violência (Proerd) no Município de São Borja. Tradicionalista, é Coordenador da Invernada Especial do Centro Nativista Boitatá. Historiador e pesquisador e apaixonado pela cultura do Rio Grande do Sul.

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