“O espiritismo dá muitas respostas, nem todas fáceis de entender ou aceitar”: jovens relatam como abraçaram a doutrina

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Guilherme
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Foto: André Ávila - Agência RBS

Na recepção do Instituto Espírita Dias da Cruz, em Porto Alegre, o estudante de Contabilidade Átila Mansur, 22 anos, recebe aqueles que buscam conforto espiritual no tradicional centro religioso da esquina das avenidas da Azenha e Ipiranga, onde também funciona um albergue. O trabalho parece simples, mas exige comprometimento.

— As pessoas chegam com as suas demandas e precisamos acolhê-las da melhor forma. Envolve amor, empatia, serenidade. Cada pessoa que entra pela porta é um filho de Deus — explica o jovem. 

Após a acolhida, Átila apresenta uma palestra aos visitantes, na qual aborda os princípios da doutrina espírita. O momento de reflexão é seguido por uma sessão de preces e irradiações, práticas que envolvem oração e envio de boas energias a pessoas que estão longe.

Desafios da juventude

O momento se repete todas as noites de terça e sexta-feira, dias que o jovem dedica ao voluntariado no departamento espiritual do centro espírita. Nas noites de quarta-feira, ele ainda participa de um grupo de estudos sobre a doutrina. Já nas manhãs e nas tardes de sábado, colabora com as atividades de evangelização da juventude, com palestras e dinâmicas que buscam aproximar outros jovens do espiritismo.

Os compromissos são conciliados com a faculdade e o trabalho. Encontrar tempo para tudo é um desafio, diz o jovem, mas abrir mão das vivências da religião não está nos planos. 

— Sinto que a doutrina espírita me deixa mais confortável para viver tudo isso. A juventude é uma fase que tem transições difíceis, você passa a depender menos dos pais, precisa se virar mais sozinho. Aí tem trabalho, estudos, lazer, amigos, família, todas as coisas para equilibrar. Estar em contato com a doutrina me ajuda a lidar melhor com os desafios dessa etapa — reflete.

Respostas do espiritismo

Natural de Feira de Santana, na Bahia, Átila ingressou na religião ainda na infância, por influência dos pais. Entretanto, o grande envolvimento do jovem com a doutrina espírita veio somente na pré-adolescência, época em que ele e a família moravam em Vitória, no Espírito Santo.

Átila conta que quando todos se mudaram para Porto Alegre, em 2019,  já havia estreitado seus laços com o espiritismo, que passou a fazer parte de quem ele é.

— Nem sempre a religião dos pais é seguida pelos filhos — observa o jovem. — O que me motivou a continuar foi a luz que se abriu no meu caminho para entender as vivências, as experiências, as coisas boas e não tão boas da minha vida pessoal.

O espiritismo nos dá muitas respostas. Nem todas são fáceis de entender ou de aceitar, mas todas são importantes.

ÁTILA MANSUR, 22 ANOS

Estudante de Contabilidade

Sinais mediúnicos

O caminho até a religião foi parecido para Eduarda Seger, 23 anos, moradora de Estância Velha. A jovem ingressou no espiritismo aos cinco anos de idade e relata ter crescido em meio às atividades do Grupo Espírita Francisco Xavier, outro tradicional centro da Capital.

O local foi buscado por sua mãe, que desejava entender os sinais mediúnicos que vinham sendo dados pela irmã de Eduarda. A família inteira passou a frequentar o centro espírita. 

— Foi onde conseguimos encontrar um caminho e um entendimento para o que estava acontecendo na nossa vida e equilibrarmos essa questão mediúnica, que na verdade todos nós carregamos — diz ela. 

André Ávila / Agencia RBS
Eduarda Seger, 23 anos, participa do Grupo Espírita Francisco Xavier, tradicional centro da Capital.André Ávila / Agencia RBS

Hoje, a jovem contribui com os atendimentos espirituais oferecidos pelo centro — desobsessão, passes, irradiações e pronto-socorro espiritual, entre outros. Eduarda também atua como voluntária na comunicação da Federação Espírita do Rio Grande do Sul (Fergs). 

A moradora de Estância Velha ainda trabalha como designer de produto em uma empresa de Eldorado do Sul e cursa, em São Leopoldo, a graduação em Comunicação Digital, já na etapa do TCC. Na agenda também entram momentos de cuidado com a saúde (o que inclui academia, pilates e terapia) e a paixão pela música, com aulas de técnica vocal.

A doutrina espírita é o meu ponto de calma no meio de toda essa agitação.

EDUARDA SEGER, 23 ANOS

Designer de produto e estudante de Comunicação Digital

Perda de fiéis

Eduarda e Átila fazem parte de um dos grupos religiosos mais tradicionais do país, mas que perdeu fiéis na última década. O espiritismo abrangia 2,2% da população brasileira em 2010, passando para 1,8% em 2022, segundo o Censo do IBGE.

Entre pessoas de 15 a 29 anos — intervalo que o Estatuto da Juventude classifica como jovem —, a queda foi de 1,6% para 1,2%. No Rio Grande do Sul, a diminuição foi de 2,7% para 2%, superando a média nacional desta faixa etária. 

Estudioso da doutrina espírita, Átila enxerga a fé como caminho para a evolução. 

Redes de juventude espírita

Para Átila, o cenário reflete a própria característica do espiritismo, religião que tem nos mais velhos grande parte de seus praticantes. Contudo, afirma que existem redes de juventude espírita ativas em todo o país e que os princípios da religião têm muito a ver com a maneira como os jovens enxergam o mundo. 

— A doutrina espírita não proíbe ninguém de nada, tampouco obriga a seguir dogmas absolutos. Ela traz uma ideia de consciência, não de imposição — explica Átila. — O espiritismo não promete salvar ninguém, é uma ferramenta para que cada um encontre a própria salvação. Essa liberdade é algo que me encanta. Nada é imposto, nada é colocado como obrigação, e eu acho que isso tem muito a ver com a juventude — acrescenta.

Átila acredita que a maior porta de entrada na religião ainda é a influência familiar, mas observa uma crescente de jovens que procuram o espiritismo após passarem por outros credos e não encontrarem o acolhimento almejado

— Não estou falando que a religião é melhor que as demais, mas esse princípio do não julgamento pode ser mais acolhedor para algumas pessoas — pondera. — O jovem é muito julgado por ir a festas, beber, fazer sexo, mas não compete a ninguém apontar dedos. Cada pessoa tem a sua consciência, a sua vivência e o seu processo de evolução.

Comunicação com espíritos

André Ávila / Agencia RBS
Para Eduarda, a doutrina espírita aponta o melhor caminho, mas não infringe o livre arbítrio.André Ávila / Agencia RBS

 

Eduarda acrescenta que alguns aprendizados surgem com o tempo. Para ela, determinados comportamentos nunca fizeram sentido, mas o processo não será igual para todos os jovens.

A estudante analisa que a doutrina serve como uma bússola: aponta o melhor caminho a ser seguido, mas não infringe o livre arbítrio de cada um, tampouco penaliza.

— Crescer dentro de uma casa espírita fez com que eu tivesse uma consciência muito grande de quem sou e para onde quero ir. Na adolescência, sentia que nunca me encaixava totalmente nos hábitos que eram comuns, como os excessos que para muitas pessoas fazem parte dessa fase da vida — conta a jovem, dizendo que nem por isso deixa de se divertir. 

Segundo Eduarda, o espiritismo acredita na comunicação com espíritos desencarnados e na noção de que nunca se está sozinho. A crença é um parâmetro que ajuda a medir os comportamentos que convém ou não se ter. 

— As nossas atitudes determinam as companhias espirituais que atraímos. Quando cometemos excessos, seja com bebida, seja com drogas, há uma atração de espíritos que estão associados a isso. Geralmente são espíritos não evoluídos, que podem causar um desequilíbrio em nós — explica. 

Enfrentando o preconceito

A jovem observa que o aspecto “sobrenatural” da religião, ao passo que desperta a curiosidade de muitas pessoas, também é motivo de preconceito. Eduarda lembra que já sentiu receio de falar que era ligada ao espiritismo. 

— Há quem enxergue a religião de forma distorcida, como se fosse “coisa do diabo”, sendo que a gente trabalha pela consolação, pelo amor, pelo conforto íntimo. Hoje, esse cenário está bem melhor, mas às vezes acontecem alguns julgamentos sutis. As pessoas acham que a gente não percebe, mas a gente percebe — diz Eduarda. 

“O espiritismo nos dá muitas respostas”, afirma Átila.

Já Átila diz nunca ter enfrentado uma situação de preconceito explícito, mas que já foi apontado como “careta” por não beber ou recusar determinadas atitudes. Contudo, o jovem relata encarar o julgamento com tranquilidade.

Como homem negro e baiano, ele entende que a doutrina espírita traz calma e discernimento para que consiga lidar melhor também com o preconceito racial e a xenofobia — o que é diferente de tolerá-los, como frisa o jovem:

— Não é porque somos espíritas e acreditamos na evolução através das encarnações que temos que cruzar os braços e deixar tudo como está. Como uma pessoa que está inserida na sociedade, eu tenho que trabalhar para combater esses problemas. Porém, a doutrina faz com que eu não me torne uma pessoa revoltada. 

Para Átila, a questão primordial da religião está em sempre buscar melhorar como pessoa e como espírito.

— Devemos ser espíritas em casa, no trabalho, na faculdade, com os nossos amigos. Ser espírita não é ficar falando da doutrina, é viver de acordo com ela. Tentar amar um pouco mais, tentar entender o outro um pouco mais e ser alguém melhor a cada dia.

Fonte: GZH 

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