Por: Isaac Carmo Cardozo – Colunista
Certo dia vivi um instante que guardarei no peito como um tesouro.
Vi meu filho, de calça curta e pés descalços, balançando-se na rede e assoviando, que encheu minha alma de alegria. Por alguns minutos, todos os problemas se calaram, e fiquei apenas ali, tentando decifrar a melodia que nascia de seus lábios comprimidos. Que canção seria aquela? Que segredos o coração dele queria revelar através desse som tão puro?
Para quem não sabe, sou pai de um menino autista de 14 anos, chamado Isaac Henrique. Ele não é verbal. E, no fundo do meu ser, carrego o sonho de ouvir a palavra “pai” vinda de sua boca. Um sonho que não me abala, mas que me fortalece, porque sei que, mesmo sem palavras, ele fala comigo de tantas outras formas.
A vida com ele me ensina diariamente que o mundo pode ser simples, sem pretensões nem ambições, apenas cheio de essência. Enquanto a sociedade avança para um tempo em que a empatia parece diminuir, esses anjos nos mostram outro caminho: o de repensar a vida, de nos reformularmos, de avançarmos com o coração.
Ouvir meu filho assoviando foi como um sopro de paz em meio ao caos. Não sei que música ele tocava, mas sei que era com a alma. Era o compasso do seu coração, embalado pelo balanço da rede, compondo a trilha única da sua existência.
Sonhos de um pai — jogar futebol, andar de bicicleta, brincar de esconde-esconde — precisaram ser reinventados. Mas isso não diminui nada, apenas transforma. Porque a vida é assim: muda, se reorganiza, e nos ensina que a verdadeira glória não está na riqueza nem no sucesso, mas na superação de cada dia.
Meu filho, terei sempre orgulho de ti. Fiel ao teu jeito, fiel ao teu tempo, fiel ao teu silêncio que fala mais alto que qualquer palavra. Seguirei ao teu lado, e te rebocando de bicicleta, até que um dia consigas pedalar sozinho.
Isaac Carmo Cardozo é 1°Sargento da Brigada Militar, Bacharel em Direito pela Unilassale/Canoas, Especialista em Gestão Pública pela UFSM/Santa Maria e Mestre em Políticas Públicas pela Unipampa/São Borja. Escreveu o livro: Monitoramento de Políticas Públicas de Segurança – O Programa de Resistência às drogas e a violência (Proerd) no Município de São Borja. Tradicionalista, é Coordenador da Invernada Especial do Centro Nativista Boitatá. Historiador e pesquisador e apaixonado pela cultura do Rio Grande do Sul.