O número de possíveis vítimas do professor de direito e advogado Conrado Paulino da Rosa, investigado pela Polícia Civil por crimes sexuais, aumentou de seis para 12. As mulheres foram identificadas pela apuração da 2ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Porto Alegre.
Conforme a delegada Fernanda Campos Hablich, o número dobrou desde a sexta-feira (19), quando o caso veio a público. Ainda segundo a delegada, algumas dessas vítimas não quiseram prestar depoimento. Os motivos passam, por exemplo, pelo medo da exposição em meio a vazamentos.
A Polícia Civil apura denúncias que vão de estupro à violência psicológica, que teriam acontecido entre 2013 e 2025. Entre as mulheres que já foram ouvidas, há relatos semelhantes entre si.
Conrado Paulino da Rosa lecionava na Fundação Escola Superior do Ministério Público (FMP) de Porto Alegre, de onde foi demitido na quinta-feira (18). A instituição não informa o motivo da demissão, mas a reportagem apurou que a decisão foi tomada após o início da investigação da polícia.
Por meio de nota, a FMP disse que “o desligamento foi definido em caráter administrativo”, “sem qualquer juízo antecipado sobre eventual responsabilidade de situações externas à Instituição”.
O advogado do professor, Paulo Fayet, informou, também por nota, que “a defesa teve acesso recentemente ao inquérito e tem convicção da inexistência de fatos penalmente relevantes, respeitando sempre o sigilo do expediente e o trabalho da Delegacia Especializada”.
No entanto, por meio de seu perfil no Instagram, o professor se manifestou dizendo que confia “que, com a apuração completa, após a minha oitiva e de minhas testemunhas, e a analise da documentação que será apresentada, a verdade dos fatos se sobressairá” (leia a íntegra abaixo).
Conrado Paulino da Rosa lecionava para alunos de graduação e mestrado em direito na FMP, onde também coordenava a pós-graduação em Direito de Família e Sucessão. Além disso, foi presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família, Seção RS (IBDFAM-RS). Em sua biografia, diz ser autor de 18 obras sobre o assunto.
Contraponto
Nota de Conrado Paulino da Rosa
Quem conhece minha trajetória de décadas, sabe do respeito que possuo pela minha profissão e como conduzo minha vida pessoal.
Confio que, com a apuração completa, após a minha oitiva e de minhas testemunhas, e a análise da documentação que será apresentada, a verdade dos fatos se sobressairá. Confio no trabalho das Autoridades, pessoas técnicas e idôneas, mas ao menos por ora respeitarei o sigilo da investigação e evitarei qualquer outra forma de exposição desnecessária. O Dr. Paulo Fayet, profissional em quem confio e agradeço, já foi constituído e está adotando todas as providências necessárias.
Por fim, não se pode esquecer que investigação não equivale à condenação. Muito menos enquanto ainda não formalizado o contraditório e ampla defesa, de sorte a ferir também a ampla presunção 0 inocência. Repudio qualquer forma de violência contra a mulher e indispensável que haja responsabilidade na divulgação de informações sigilosas sem autorização.
Nota do advogado de Conrado Paulino da Rosa
“A defesa teve acesso recentemente ao inquérito e tem convicção da inexistência de fatos penalmente relevantes, respeitando sempre o sigilo do expediente e o trabalho da Delegacia Especializada. Nesse momento, o Dr. Conrado vai se resguardar para uma melhor análise dos fatos, e do restante do inquérito até aqui presidido pela Delegacia especializada, preparando-se para o seu eventual depoimento, o que deverá ocorrer nas próximas semanas, organizando a sua prova de defesa.
Vale lembrar que o momento é de investigação preliminar, bastante recente, devendo ser respeitados os alicerces do contraditório constitucional, da mais ampla defesa e do sigilo das provas, preservando-se a necessária isenção técnica e a imagem de todos os envolvidos.”
Paulo Fayet e Cássio de Assis
Nota da advogada das vítimas
A defesa das vítimas de Conrado Paulino da Rosa comunica através dessa nota à imprensa que todas as medidas judiciais cabíveis já foram tomadas e que, neste momento, se manifestarão apenas perante as autoridades policiais e judiciais, inclusive em razão de Medida Protetiva de Urgência vigente.
Unidas, incentivam a proteção de todos os direitos das mulheres e incentivam àquelas que possam estar vivendo relacionamentos abusivos a buscarem ajuda, denunciarem, entendendo que o silêncio protege apenas os agressores. Desde já, repudiam o uso de qualquer estereótipo de gênero, comuns nas defesas de homens denunciados, e reafirmam aquilo que foi dito por Maria da Penha: a vida começa quando a violência termina.
As mulheres estão vivas na união, na voz e na força. A coragem de cada uma e de todas juntas é para que não existam próximas vítimas.
Nota da FMP
A Fundação Escola Superior do Ministério Público – FMP informa que o professor Conrado Paulino da Rosa não integra mais o corpo docente da Instituição.
O desligamento foi decidido em caráter administrativo, conforme previsto no regimento interno da FMP, sem a realização de juízo antecipado sobre eventuais responsabilidades relacionadas a fatos externos à Instituição.
A FMP reitera seu compromisso inegociável com a ética, a transparência e, sobretudo, com a promoção de um ambiente acadêmico seguro, inclusivo e respeitoso para todas as pessoas.
Reafirmamos, de forma categórica, nossa posição contrária a qualquer forma de violência, em especial a violência contra as mulheres, e nosso apoio a todas as iniciativas que promovam a equidade de gênero e os direitos humanos.
Com 41 anos de atuação na formação de profissionais comprometidos com a justiça e a cidadania, a FMP seguirá fiel aos seus princípios institucionais e ao respeito à dignidade humana.
Fonte: GZH