Celulares “burros”: aparelhos com poucos recursos são opção para quem busca detox digital

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Foto: Mateus Bruxel - Agência RBS

Com utilidade que se restringe àquilo que hoje, talvez, seja o uso menos recorrente dos celulares, os dumbphones fazem pouca coisa. Também conhecidos como telefones “burros” e “celular do vovô”, os aparelhos realizam ligações, enviam mensagens de texto e alguns têm uma versão do WhatsApp simplificada, sem direito a figurinhas ou áudios. E só. 

A descrição soa como um flashback dos primórdios da telefonia móvel, a escassez de recursos é, justamente, o que tem atraído pessoas para esses dispositivos. Na rede de lojas Roberto Celular, os dumbphones figuraram, ao longo do último ano, no top 10 dos aparelhos vendidos. Mais baratos – os preços ficam em uma faixa de R$ 150 a R$ 400 –, os dispositivos são principalmente buscados por idosos.

— A procura aumentou, porque antes não havia tantos modelos disponíveis. Acho que os fabricantes viram esse nicho de mercado para aproveitar. Pessoas mais idosas têm um saudosismo de usar celulares parecidos com aqueles que usavam 20 anos atrás — observa Gabriel Ouriques, sócio da rede.

Entre os modelos, estão aparelhos pequenos e tão leves que parecem ser de brinquedo, além de versões com flip. Grandes fabricantes, como a Samsung e a Apple, não apostam nos dumbphones – apenas colocam opções em suas configurações que ajudam a restringir o tempo de tela ou dão uma “emburrecida” no smartphone. Já marcas nacionais como a Positivo e a Multilaser têm investido no modelo.

A maioria desses dispositivos não tem sequer o famoso “jogo da cobrinha”, popular no início dos anos 2000 nos aparelhos da Nokia. Entre os recursos existentes, estão alarme, gravador de voz, calculadora, calendário, lanterna e rádio FM. Alguns também têm espaço em sua memória para que o usuário baixe músicas em MP3 e as escute.

A novidade é que, além dos idosos, outros perfis têm se atraído pela simplicidade desses celulares. Um deles é o de pais de crianças e pré-adolescentes, preocupados com o que os filhos desenvolvam vício pelos meios eletrônicos e sejam expostos a eventuais violências e assédios existentes nas redes sociais. O outro é o de jovens adultos que vivem uma estafa digital e querem reduzir o consumo.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Modelos pequenos e com flip são algumas das opções.Mateus Bruxel / Agencia RBS

A arquiteta gaúcha Carolina Mesquita Clasen, 32 anos, costumava ter iPhones, mas, depois de ser assaltada em duas ocasiões em São Paulo, onde mora, repensou o uso.

— Aproveitei que eu estava de férias e fiquei dois meses sem celular. Me comunicava com amigos e família por e-mail, como se fosse uma conversa por WhatsApp. Entre as pessoas da minha idade, deu certo. Já com a minha mãe e a minha avó, percebi que havia uma ansiedade maior para que eu voltasse a ter WhatsApp. Por isso, acabei comprando um novo — recorda Carolina, que viveu essa situação no início deste ano.

A experiência, no entanto, foi muito proveitosa. A arquiteta sente que passou a se conectar mais com os momentos que vivia, a observar mais aquilo que já não podia fotografar e a ter uma organização maior de quais eram os horários de lazer e quais eram de trabalho, uma vez que não contava com um dispositivo que lhe permitisse acesso a aplicativos avançados de design e arquitetura, por exemplo.

Além disso, redescobriu o táxi: trocou contatos com um taxista que ficava em um ponto em frente ao seu prédio e percebeu que os valores das corridas eram semelhantes aos de transportes por aplicativo. Como o táxi pode trafegar por corredores de ônibus, chegava mais rápido ao destino.

Ainda que a vida sem o aparelho não tenha sido possível – além da comunicação com a família, pesou o fato de não conseguir fazer transições bancárias pela internet –, Carolina resolveu comprar um celular mais simples, da marca Xiaomi, que tem capacidade inferior de processamento e câmera com definição menor. Mesmo que o aparelho seja smart, sua dependência por ele caiu.

— Não é só o uso das redes sociais que eu diminuí: acho que passei a desprezar mais a presença do celular. E me sinto mais segura para andar pela rua, porque sei que os assaltantes não visam tanto o aparelho que eu tenho.

Redução da hiperconectividade

Segundo o psiquiatra Thiago Pianca, especialista em Dependência e Adições e doutor em Psiquiatria pela UFRGS, os dumbphones podem auxiliar no controle do tempo de tela e na redução de sintomas relacionados à hiperconectividade. Entre adolescentes, o uso desses aparelhos pode ser uma alternativa para manter contato com os pais sem exposição às redes sociais e grupos de mensagens.

— É uma forma de o adolescente continuar encontrável, mas sem estar sujeito à hiperconectividade. Esses aparelhos ajudam a reduzir o uso problemático de internet e de smartphone, comum nessa faixa etária — afirma Pianca, que observa que a mudança representa também um retorno à função original do celular: ser um meio de comunicação direta.

O psiquiatra destaca ainda que há um segundo grupo interessado nos aparelhos básicos — jovens adultos cansados da rotina de notificações, notícias e comparações constantes.

— Para muitos, isso se torna uma estratégia de desintoxicação digital. Há estudos que indicam que trocar o smartphone por um aparelho simples pode reduzir sintomas de ansiedade e depressão em alguns casos — diz.

O benefício depende do contexto: se o ambiente social continua centrado nas redes, o efeito tende a ser menor. Conforme Pianca, tentar limitar o uso apenas com autocontrole é difícil:

— O autocontrole se esgota. Cada vez que a pessoa precisa resistir à tentação de olhar o celular, ela gasta energia mental. Por isso, um limite físico, como um aparelho sem acesso às redes, pode funcionar melhor.

O psiquiatra observa que há recursos nos próprios smartphones – como controle de tempo e bloqueio de aplicativos – que muitas pessoas desconhecem ou não utilizam. Entre os ganhos de reduzir o tempo de tela, Pianca cita melhora no sono, na ansiedade e na disposição para atividades fora do ambiente digital.

— Não é uma solução mágica, mas pode ser um passo importante dentro de um cuidado mais amplo com a saúde mental, que envolve sono adequado, relações sociais e atividade física — descreve o profissional.

Para o especialista, mesmo quem depende do celular para o trabalho pode buscar momentos de desconexão – na opinião dele, o que se faz longe do celular “é tão importante quanto o que se faz com ele”, e é preciso “criar espaços em que o aparelho não esteja presente”.

Fonte: GZH 

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