Por Isaac Carmo Cardoso – Colunista
A rotina policial é intensa. Requer dedicação, profissionalismo e imparcialidade. Todo servidor militar do Estado, ao prestar concurso e frequentar a Academia de Polícia Militar, aprende a exercer um serviço de excelência.
Mas não há como evitar o sentimento de impotência, de tristeza, quando nos deparamos com ocorrências que envolvem a perda de familiares, de pessoas queridas, de vidas ceifadas por tragédias que marcam nossa sociedade.
Em São Borja não é diferente. Com uma população de quase 60 mil habitantes, temos um índice preocupante de mortes violentas, resultado de fatores que crescem de forma alarmante e que exigem das autoridades a adoção de medidas e políticas públicas capazes de reduzir essa realidade.
Todo policial que atende esse tipo de ocorrência sente-se, de alguma forma, tocado. Muitas vezes somos os primeiros a chegar ao local, acompanhados de outras instituições — como o os Bombeiros Militar e SAMU —, e somos vistos como aqueles que poderiam resolver tudo, que talvez pudessem devolver a vida a alguém.
Mas também somos enxergados como o ponto final de uma história. E é difícil, muito difícil, ver uma mãe, um pai, um filho chorando desesperadamente. Isso nos afeta — porque não somos máquinas. Somos humanos.
Unidos pela emoção, nem sempre podemos demonstrar o que sentimos. Precisamos ser firmes, tomar decisões rápidas e conduzir a ocorrência da melhor maneira possível. Naquele momento, representamos o Estado.
Saibam que esse policial militar, que se despede da família, veste o colete balístico e sai para o trabalho, não deseja encontrar tragédias todos os dias. Mas está sempre preparado para enfrentá-las e conduzir cada situação com dignidade.
O que quero dizer é que, embora sejamos vistos como solucionadores de problemas, também temos uma vida, uma família que nos espera, nossas próprias dificuldades, lutas e fraquezas. E, mesmo assim, precisamos lidar com as diferenças, com as demandas e com a dor da população que solicita o apoio da Brigada Militar.
Cada vez que nos deparamos com uma ocorrência dessa natureza, sentimos impotência. Mas também a convicção de que devemos agir da melhor forma possível.
Atrás de uma farda, atrás de um colete, bate um coração. Existem sentimentos. Existem emoções. Existem seres humanos.
Quando sorrimos, é de verdade. Quando choramos, também. Sentimos a dor dos outros, e muitas vezes derramamos nossas lágrimas em silêncio — mantendo a postura, como referência e amparo em meio ao caos.
Que possamos, como sociedade, crescer em humanidade, compreender melhor as profissões, o legado e o peso de cada uma. Que entendam que o policial militar, embora chamado nas piores circunstâncias, é um ser humano. Um ser humano que dedica — e entrega — a própria vida em nome da coletividade.
Isaac Carmo Cardozo é 1°Sargento da Brigada Militar, Bacharel em Direito pela Unilassale/Canoas, Especialista em Gestão Pública pela UFSM/Santa Maria e Mestre em Políticas Públicas pela Unipampa/São Borja. Escreveu o livro: Monitoramento de Políticas Públicas de Segurança – O Programa de Resistência às drogas e a violência (Proerd) no Município de São Borja. Tradicionalista, é Coordenador da Invernada Especial do Centro Nativista Boitatá. Historiador e pesquisador e apaixonado pela cultura do Rio Grande do Sul.
















