A Polícia Civil cumpriu cinco mandados de prisão preventiva nesta quinta-feira (2) por suspeita de participação em uma quadrilha que invadiu e usou de forma indevida a conta gov.br de uma juíza federal. As diligências ocorreram nas cidades de Portão, Dois Irmãos e Sapiranga, no Vale do Sinos, Rolante, no Vale do Paranhana, e na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan).
Segundo a investigação da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas, o objetivo principal da fraude era burlar o sistema judiciário para possibilitar a venda de um veículo que estava sob restrição judicial. A apuração apontou que o Honda Civic chegou a ser adquirido após a fraude pelo valor de R$ 77,9 mil, por um morador de Caxias do Sul.
O carro em questão havia sido apreendido em agosto do ano passado, no âmbito de uma operação contra rifas ilegais realizadas por influenciadores digitais. A mulher que ganhou o veículo em uma dessas rifas vendeu o automóvel a um comerciante. A restrição judicial foi determinada após essa negociação.
Para repassar o carro adiante, o comerciante contratou o hacker por R$ 13 mil. Com o acesso aos sistemas do Judiciário, o criminoso conseguiu remover a restrição — o que permitiu que o automóvel fosse vendido legalmente a uma revenda de veículos.
Um dos alvos é considerado o principal da chamada Operação Invasor. Ele está recolhido na Pecan e é apontado pela polícia como o operador da fraude, com antecedentes por crimes cibernéticos e patrimoniais, inclusive em outros Estados. Os demais presos teriam prestado apoio ao esquema fraudulento e um deles, contratado o serviço ilegal.
— Este é um exemplo claro de como a criminalidade se moderniza e tenta explorar brechas tecnológicas para obter lucro ilícito — afirmou a delegada Luciane Bertoletti, responsável pela investigação.
Fraude teria ligação com mercado automotivo
A investigação teve início há cerca de um ano, quando o juiz responsável pelo processo original percebeu a retirada irregular da restrição do carro. Ela havia sido removida por meio de acessos que constavam como realizados por uma magistrada federal de São Paulo. A juíza, no entanto, negou ter realizado tal procedimento.
No percurso da investigação, a equipe policial descobriu que o desbloqueio do veículo foi feito por meio de acessos ilegítimos no sistema de Restrições Judiciais Sobre Veículos Automotores (Renajud). A plataforma foi acessada utilizando as credenciais digitais da juíza federal, sem a autorização dela.
O beneficiário direto da fraude foi identificado como um comerciante de automóveis da cidade de Rolante. Ele havia adquirido o Civic que apresentava a restrição judicial ativa e buscava revendê-lo.
Em depoimento à polícia, o comerciante afirmou que pagou R$ 13 mil a um advogado criminalista para que a “limpeza do veículo” fosse realizada. Contudo, a investigação evidenciou que ele teria, na verdade, contratado um hacker para burlar o sistema judicial.
A polícia comprovou que a exclusão da restrição no Renajud ocorreu no mesmo dia em que o comerciante e o hacker iniciaram as tratativas da fraude. Após a liberação ilícita, o automóvel foi repassado a uma revenda em Dois Irmãos.
O Civic foi anunciado ao público e, posteriormente, adquirido por um morador de Caxias do Sul. O comprador final, sem conhecimento da ilegalidade da transação, financiou o veículo no valor de R$ 77,9 mil.
A proprietária original do carro informou à polícia que não ocultou a restrição judicial no momento da venda. Ela também relatou que o comerciante chegou a lhe pedir apoio financeiro para cobrir os custos da fraude.