Há cerca de um ano, a imagem de um cavalo em cima de um telhado, sozinho e cercado por água, comoveu o país em meio à tragédia da enchente que atingiu Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Hoje em dia, Caramelo, como foi carinhosamente batizado, se tornou símbolo de resistência, vive saudável e feliz.
É o que contam os cuidadores do equino, que foi adotado e agora vive na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).
O Estado foi atingido por uma enchente histórica em maio de 2024, que provocou danos em quase todos os municípios, devastou cidades, especialmente da Região Metropolitana e Vale do Taquari, retirou milhares de casa e deixou 184 mortos, além de 25 desaparecidos. De todo o país, voluntários e doadores se mobilizaram para prestar ajuda aos atingidos.
Vida de rei
Quando chegou à Ulbra, o cavalo estava 50 kg abaixo do ideal e com um quadro de desidratação. Hoje, ganhou até o apelido de comilão.
— Desde que chegou aqui o que ele faz melhor é se alimentar. A gente tem até que tomar cuidado com a oferta de alimento, para ele não ficar muito obeso — conta Henrique Mondardo Cardoso, veterinário responsável pelo Caramelo.
Já 100% recuperado da situação que se encontrava quando foi resgatado — com desidratação, magro e ferido — a rotina de Caramelo envolve cuidados com tratadores com alimentação, banho e escovação.
Morador famoso do Hospital Veterinário da Ulbra, o cavalo virou até ponto turístico. Por lá, ele não apenas foi acolhido, como também virou xodó da equipe.
— Não só crianças, pessoas do Brasil inteiro já vieram aqui, inclusive Uruguai, Argentina. Já teve momentos de encontros esportivos, então, veio gente de tudo que é local e muitos faziam essa visitação ao Caramelo como se fosse, ou melhor, é uma figura turística aqui dentro da universidade —afirma Henrique.
Caramelo ganhou todas as regalias possíveis: ninguém monta nele, ele não usa freios e tem total liberdade.
— Ele representa muito no Estado toda essa situação que o Rio Grande do Sul viveu e é uma honra poder ser o veterinário responsável dele — finaliza o médico veterinário.
Relembre o resgate do cavalo Caramelo
No dia 9 de maio de 2024, o resgate de Caramelo foi feito pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo — veterinários acompanharam toda a ação. O cavalo precisou ser sedado porque a equipe foi alertada que, para o bote não virar, o animal não poderia estar acordado durante o trajeto.
Seco, Caramelo, ainda dentro do bote, foi colocado em cima de uma carreta e, em seguida, levado ao hospital veterinário, onde recebeu medicação para repor a quantidade de líquido perdida nas horas em que ficou ilhado.
A mobilização da população e das forças de segurança comoveu o país e sintetizou a relação histórica do cavalo com o povo gaúcho. O cavalo crioulo é animal-símbolo do RS e considerado patrimônio cultural desde 2002. A relação com o animal é uma tradição que faz parte do DNA do povo gaúcho.