Por: Lenita Gonçalves – Fonoaudióloga
A comunicação é essencial para a interação humana, responsável por permitir relações entre os indivíduos. A partir dela, os seres humanos conseguem se expressar e compreender o seu mundo e o seu contexto. É uma ferramenta indispensável para superar desafios e adversidades diárias. A habilidade de comunicação, seja escrita e oral, de voz e audição, são essenciais em qualquer etapa da vida, seja desde os primeiros meses de um bebê até a fase adulta, ela é quem permite as relações interpessoais. E, ser fonoaudiólogo é ter a responsabilidade de contribuir para melhorar a comunicação humana oral e escrita, e seus distúrbios, oportunizando o bem-estar a todos.
À vista disso, podemos afirmar que a fonoaudiologia contribui e aperfeiçoa ações cotidianas executadas diariamente pelos indivíduos no que se refere à comunicação verbal e escrita. Através do ato comunicativo, podemos melhorar a nossa audição, a fala, como somos compreendidos e o processo de alimentação. Além disso, os profissionais da fonoaudiologia podem avaliar, diagnosticar, prevenir e tratar os distúrbios da linguagem, da fala e da comunicação social e psíquica.
Diante do contexto exposto, dentre as competências do fonoaudiólogo, traçar e avaliar individual e detalhadamente as habilidades e as dificuldades de comunicação dos seus pacientes é uma delas, para então, desenvolver um planejamento terapêutico e adequado conforme a especificidade apresentada pelo mesmo, de acordo com as suas demandas, sempre considerando o seu contexto familiar e social.
Além do mais, tem a capacidade de apoiar e orientar as famílias em relação aos estímulos que devem ser adotados no contexto familiar, com a intenção de cooperar com as habilidades aprendidas nas sessões de terapia. É este profissional que reúne os conhecimentos científicos necessários a respeito de comunicação e linguagem, desenvolvendo o plano de intervenção com estratégias e técnicas apropriadas, auxiliando no fortalecimento de habilidades sociais, interações interpessoais e comunicação. Isso pode incluir treinamento em linguagem não verbal, compreensão de emoções, expressões adequadas de sentimentos e aprendizado de habilidades de convívio social.
O autismo é uma condição que pode afetar a maneira como uma criança se comunica e interage socialmente.
E, de acordo com Fernandes et al., “As dificuldades de linguagem e comunicação são parte dos critérios para o diagnóstico do que hoje é definido como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA),” (2021, p. 2). Além da comunicação verbal e não verbal, como
já discorrido, esse transtorno do desenvolvimento ainda pode ser reconhecido como déficits de interação social, padrões de comportamento repetitivos, interesses restritos e de comportamento, com efeitos múltiplos e variáveis em domínios superiores do desenvolvimento humano (Mello, 2007).
A atuação do fonoaudiólogo se torna essencial para, além de auxiliar na identificação do transtorno, auxiliar no desenvolvimento das suas habilidades comunicativas e de relacionamentos sociais e afetivos. Ademais, por possuir sintomas que variam amplamente em gravidade e impacto de pessoa para pessoa, algumas crianças no espectro do autismo, podem ter dificuldades significativas na fala e no uso da linguagem, enquanto outras podem ter uma fala fluente e um amplo vocabulário, mas ainda podem enfrentar desafios na compreensão e no uso da linguagem socialmente apropriada, dentre outras dificuldades e comorbidades. Os sintomas do autismo aparecem geralmente na primeira infância e podem variar de leve a grave. Dentre esses, a dificuldade em se comunicar verbalmente é uma das suas comorbidades.
“A comunicação é uma das áreas mais afetadas no TEA, onde as crianças podem apresentar desde atrasos na aquisição da linguagem até a incapacidade de usar a fala de forma funcional” (Santos et al., 2024, p. 5). Diante desse contexto e necessidade, a fonoaudiologia desempenha um papel importante no tratamento do autismo, visto que desempenha uma função fundamental no tratamento complementar e integrado ao trabalho de demais profissionais. “O fonoaudiólogo, como o especialista em comunicação humana, é, assim, o profissional apto a diagnosticar, delinear, propor e executar a intervenção relacionada às habilidades de linguagem e comunicação das pessoas com TEA” (Fernandes et al., 2021, p. 2). Consequentemente, realiza uma abordagem terapêutica que tem em vista promover a comunicação e a independência das pessoas com autismo, capacitando-as a participar ativamente das atividades do dia a dia.
Logo, as intervenções e estratégias fonoaudiológicas partem da compreensão das necessidades e especificidades da comunicação e da linguagem do autista, sendo atribuição ou responsabilidade do fonoaudiólogo, “articular o diagnóstico […] e a proposta de intervenção terapêutica, a partir de raciocínio clínico coerente com as evidências científicas que compõem a sua formação clínica específica” (Fernandes et al., 2021, p. 2). Portanto, as estratégias de intervenção variam conforme as necessidades individuais, adaptando ou personalizando, permitindo que esses expressem as suas dificuldades, melhorando as suas habilidades comunicativas.
Findando, um bom fonoaudiólogo, assim como trata a Lei Federal n.º 6.965/1981, que regulamenta a profissão de fonoaudiólogo, é aquele “que atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapia fonoaudiológica na área da comunicação oral e escrita, voz e audição, bem
como em aperfeiçoamento dos padrões de fala e da voz” (BRASIL, 2025, n.p.). Isto posto, na minha percepção, um bom profissional vai além de conhecimentos teóricos e práticos, mas carece ter paciência, sensibilidade, observação, atenção, disciplina, respeito e humanidade, condutas essenciais e necessidade de todos nos seres humanos para interagir reciprocamente e, indispensável para a nossa sobrevivência.
Referências
BRASIL. Lei no 6.965, de 9 de dezembro de 1981. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6965.htm#:~:text=Fonoaudi%C3%B3logo%20%C3%A9%20o%20profissional%2C%20com,Art. Acesso em: mar. de 2025
FERNANDES, Fernanda Dreux Miranda et al. O papel do fonoaudiólogo e o foco da intervenção no TEA. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/codas/a/DDp9DMhxSwQ8jVdWNfd9jCj/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: mar. de 2025.
MELLO, Ana Maria S. Ros de. Autismo: guia prático. 5 ed. São Paulo: AMA. Brasília: CORDE, 2007.
SANTOS, Silvana Maria Aparecida Viana; BOECHAT, Gisela Paula Faitanin, CARMO, Jonathan Porto Galdino do. Estratégias de comunicação alternativa e aumentativa para crianças autistas. Revista observatorio de la economia latinoamericana, Curitiba, v.22, n.5, p. 01-22. 2024.