Julho marca os 42 anos da maior tragédia natural já registrada em São Borja. A enchente de 1983, provocada por 19 dias consecutivos de chuvas intensas, fez o nível do Rio Uruguai ultrapassar os 19 metros acima do normal, atingindo duramente o município e diversas cidades da Região das Missões.
O impacto foi devastador. Em São Borja, cerca de 5 mil pessoas ficaram desabrigadas, segundo o livro As Águas de 1983 – São Borja diante da pior enchente de todos os tempos, da jornalista Moiziane Utzig. O bairro do Passo foi um dos mais atingidos, com centenas de famílias afetadas. Na zona rural, mais de mil famílias perderam suas casas ou ficaram isoladas. Lavouras foram destruídas, estradas interditadas e pontes encobertas pelas águas. Um dos acessos mais críticos foi o da BR-285, sobre o Rio Icamaquã, que permaneceu intransitável por vários dias, interrompendo a ligação com Santo Antônio das Missões.
O jornalista são-borjense José Newton Rodrigues Falcão acompanhou de perto os estragos e registrou os principais pontos afetados. Em entrevista à Rádio Missioneira, ele destacou a dimensão da catástrofe:
“O mais impressionante de tudo foi o gigantismo daquela enchente. O rio alagou uma área absurda, tanto do lado brasileiro quanto do lado argentino.”
Antes mesmo de julho, os sinais de alerta já estavam presentes. Em maio, a imprensa local noticiava mais de 400 pessoas em situação de vulnerabilidade. Com a intensificação das chuvas ao longo do inverno, a situação se agravou rapidamente, consolidando-se como um dos maiores desastres climáticos da história gaúcha.
Apesar da destruição, o episódio também foi marcado pela mobilização da comunidade. Ações de solidariedade se multiplicaram e o poder público precisou atuar em diferentes frentes para atender às vítimas, realocar famílias e garantir o acesso a serviços essenciais.
Quatro décadas depois, a enchente de 1983 permanece viva na memória coletiva dos são-borjenses como um capítulo de dor, resistência e superação. Os registros da época, especialmente os produzidos por profissionais da cidade, continuam sendo fonte essencial para preservar a história do município.
Fontes: Rádio Missioneira | Livro As Águas de 1983, de Moiziane Utzig