O governador Eduardo Leite (PSDB) decidiu colocar em curso a estratégia para tentar novamente entrar na disputa pela presidência da República, desta vez em 2026. O tucano acelerou a marcha após identificar uma janela de oportunidade que talvez não se repita. O momento combina uma série de pesquisas mostrando queda na popularidade do presidente Lula (PT) – o que anima não só o governador, mas todos os postulantes ao Planalto – com a derrocada do PSDB, o que transformou o gaúcho em um expoente quase solitário a ser exibido pelo partido.
A ideia é aproveitar o protagonismo, mas lembrando que, muito em breve, o PSDB estará sujeito a outros atores. Como o partido vem encolhendo a cada eleição, vê minguarem recursos do fundo partidário e o tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV, e corre risco concreto de não cumprir os requisitos mínimos estabelecidos na cláusula de desempenho para acesso aos dois. Por isso, fez uma série de tentativas para se fundir, federar ou ser incorporado por outra legenda.
A com maior chance de acontecer neste momento é a fusão com o Podemos. As ofertas públicas a diferentes siglas, e a demora em uma conclusão, contudo, acabaram desgastando a imagem dos tucanos, influenciando também Leite a lançar seu plano neste momento. Na sexta-feira, pela primeira vez, ele admitiu de público que pode deixar o PSDB se concluir que essa será a melhor forma de se viabilizar para 2026.
A estratégia do governador para tentar participar da eleição presidencial inclui pelo menos quatro eixos. O primeiro é apostar em uma interação ainda maior com segmentos aos quais ele já é bem vinculado: o comando dos setores produtivos e as organizações da sociedade civil organizada. Ambos são identificados como polos multiplicadores, capazes de influenciar parcelas amplas da população.
O segundo é vender o RS como um case de sucesso nacional após seis anos de administração tucana, focando na divulgação de indicadores positivos e relativizando ou descolando o governo estadual de ações e dados negativos. Nos dois pontos os estrategistas de Leite vêm testando a dose a ser aplicada do conhecido bairrismo gaúcho, que ganhou tração após a tragédia climática do ano passado.
O terceiro alicerce consiste em blindar ao limite discordâncias existentes dentro da estrutura de governo, temas que sejam alvo de debates internos ou situações que coloquem em xeque a imagem de gestor arrojado e competente do governador. O modelo lembra aquele utilizado por Aécio Neves (PSDB) quando este comandou Minas Gerais, entre 2003 e 2010. À época, a estratégia neutralizou críticos e adversários, ajudou a transformar o hoje deputado federal no governador mais bem avaliado do país e pavimentou sua pretensão de concorrer à presidência da República.
Por fim, de olho na importância das redes sociais, e incorporando uma tendência adotada com força no meio político, Leite investe na popularização da imagem e na aproximação com a população através da exposição de pílulas da vida pessoal e de situações de lazer. São exemplos recentes o registro de momentos da viagem de férias que ele e o marido, Thalis Bolzan, fizeram pela Europa, as fotos de treinos em conjunto com o companheiro na academia ou a divulgação do banho de mar dos dois na praia de Atlântida.
Planejamento coloca em suspenso decisões de aliados e opositores
Os movimentos do governador são monitorados de perto por aliados e opositores porque têm impacto direto sobre as articulações de outros partidos no RS. O sucesso ou fracasso de sua tentativa de entrar na corrida presidencial é considerado determinante, por exemplo, para as negociações sobre as duas vagas ao Senado, já que o Senado é apontado, inclusive por articuladores do tucano, como seu caminho natural caso a pretensão nacional naufrague.
No entendimento de líderes partidários de diferentes siglas, se Leite entrar na disputa, forçará uma rearticulação do campo da direita, que hoje acredita ter chances de eleger senadores os deputados federais Luciano Zucco (PL) e Marcel Van Hattem (Novo). “Se Leite vier para senador, são grandes as possibilidades de ele ser o segundo voto tanto da esquerda como da direita. Não há espaço para os três”, resume o dirigente de um dos maiores partidos aliados do tucano hoje no governo.
A situação é, na leitura de dirigentes de legendas de centro e direita, um dos motivos que leva Zucco a ora se colocar como pretendente ao Senado e ora como postulante ao governo em 2026, uma movimentação que vem incomodando outros concorrentes do mesmo campo político.
O caminho de Leite impacta ainda o tempo do MDB, que hoje tem o vice-governador Gabriel Souza como pré-candidato à sucessão no Piratini, estabeleceu que a eleição para o governo do Estado é a sua prioridade e, assim, mantém na mesa três vagas abertas na chapa majoritária. A manutenção da aliança estaria praticamente dada caso o PSDB seguisse sozinho, mas sua união com outra sigla gera a necessidade de renegociações. O mesmo efeito tem a definição sobre uma candidatura presidencial ou ao Senado.