Um grupo suspeito de praticar estelionatos envolvendo a venda e transferência de veículos clonados é alvo de uma operação da Polícia Civil nesta quarta-feira (7). A organização criminosa teria atuação em pelo menos três Estados, incluindo o Rio Grande do Sul, e usaria dados de contas invadidas do gov.br para a aplicação dos golpes.
Até as 10h, 17 pessoas haviam sido presas, das quais seis já estavam detidas no sistema prisional.
Conforme a investigação, o grupo é especializado em estelionatos, falsificação de documentos, invasão de dispositivos informáticos, adulteração de sinal identificador de veículo automotor e lavagem de dinheiro. Ao menos quatro fraudes teriam sido feitas pela organização criminosa em menos de um ano, deixando prejuízos na faixa dos R$ 100 mil cada.
Chamada de Cripteia, a operação busca desarticular esse grupo criminoso cumprindo 22 mandados de prisão preventiva, 25 de busca e apreensão e três de sequestro de bens.
As ações acontecem em cinco cidades gaúchas — Porto Alegre, Viamão, Alvorada, Charqueadas e Arroio dos Ratos —, quatro catarinenses — Florianópolis, São José, Palhoça, Criciúma —, além do Rio de Janeiro (RJ).

Entre as prisões, seis alvos já se encontram no sistema prisional, incluindo o homem de 40 anos apontado como líder do esquema criminoso. Condenado a mais de 70 anos, ele está detido em Charqueadas, na Região Carbonífera.
— Hoje, a gente desmonta essa organização criminosa, desde o líder até os indivíduos participantes das células. É uma operação importante e mostra que a Polícia Civil e o Departamento Estadual de Repressão dos Crimes Cibernéticos estão atentos aos novos meios que os criminosos utilizam — ressaltou o delegado João Vitor Herédia, da Delegacia de Repressão aos Crimes Patrimoniais Eletrônicos.
A operação conta com o apoio das polícia civis do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, além da Polícia Penal gaúcha.
A investigação
A Polícia Civil descobriu o grupo criminoso e deu início às investigações em julho do ano passado, a partir de um registro de ocorrência feito em Gravataí, na Região Metropolitana. Uma vítima afirmou à polícia ter sofrido um golpe ao adquirir um veículo nas redes sociais.
Conforme o relato da vítima, depois de ter realizado o pagamento, no valor de R$ 80 mil, e receber o documento de Autorização para Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV-e), ela teria sido surpreendida no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) com a informação de que o veículo seria clonado, possivelmente produto de furto ou roubo.
O carro vendido para a vítima havia sido roubado no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, poucos dias antes da venda.
A partir de imagens de segurança, técnicas de investigação digital e análise de mensagens, a polícia conseguiu mapear os suspeitos de participar dessa prática criminosa.
Entenda o esquema
Segundo a investigação, de dentro da cadeia o líder da organização adquiria veículos roubados e furtados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Com ajuda dos integrantes de fora do sistema prisional, ele realizava a clonagem e falsificação dos sinais identificadores dos carros para, então, tentar vendê-los por meio de plataformas digitais.
A investigação aponta que depois que um carro era clonado, os criminosos passavam os dados da nova placa para um indivíduo do Rio de Janeiro.
O homem, de 24 anos, seria estudante de tecnologia e programação de dados e atuaria profissionalmente na área — ele é um dos presos desta quarta.
Com conhecimento cibernético e por meio de técnicas de engenharia social, ele atuaria para esse grupo de golpistas invadindo a conta gov.br do proprietário original do veículo para ter acesso à documentação veicular.
Com os documentos, os criminosos passavam a anunciar a venda do veículo na internet, principalmente pelas redes sociais, por um valor abaixo do mercado para atrair o interesse do público. Com o acesso ao gov.br do dono original do veículo, os criminosos também conseguiam enviar o documento de Autorização para Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV-e) à vítima, passando um ar de credibilidade.
Normalmente, a vítima só compreendia que havia sido vítima de um golpe ao tentar finalizar a transferência do veículo no Detran, onde era avisada que o veículo em questão era roubado ou furtado.
São três vítimas: uma que tem a sua conta gov.br invadida e tem suas credenciais subtraídas, uma que tem o veículo roubado e uma terceira que é quem compra o veículo clonado.
DELEGADO EIBERT MOREIRA NETO
Diretor do Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos
Segundo aponta a investigação, os valores desse golpe eram lavados por uma célula do grupo, em Santa Catarina, em empresas de fachada. O objetivo seria ocultar o montante angariado com o crime e repassar lucros para os demais integrantes da organização.
O que é golpe de engenharia social?
Essa modalidade de fraude combina manipulação psicológica com o uso de tecnologias para enganar os usuários e obter dinheiro e informações confidenciais. Os métodos utilizados nesses golpes visam persuadir as pessoas a fornecerem senhas, dados confidenciais, clicar em links maliciosos ou permitir acesso a sistemas restritos ou instalações físicas.
Como se proteger:
- Verifique a procedência de endereços de e-mail, números de telefone, ofertas ou outros contatos na internet
- Desconfie de pessoas desconhecidas ou ofertas muito boas
- Tenha cuidado com solicitações que envolvam dados pessoais, confidenciais ou acesso a redes corporativas
- Evite clicar em links e visitar sites de procedência duvidosa
- Verifique se o endereço da página começa com “HTTPS” em vez de apenas “HTTP”. O “S” significa que o site é “seguro”
- Evite baixar ou abrir anexos de fontes desconhecidas ou suspeitas;
- Consulte alguém de sua confiança (parente, familiar, amigos) antes de tomar qualquer atitude solicitada pelos supostos golpistas.
Fonte: GZH