A situação do ex-vereador em São Borja Celso Andrade Lopes (PDT) se complicou. Ele foi indiciado nesta semana pela Polícia Federal por falsidade ideológica e fraude processual. Os policiais concluíram que o político mentiu e falsificou prova ao dizer que não compareceu a uma festa de familiares de um chefe do crime organizado na Fronteira. Ele teria ido ao evento na campanha eleitoral de 2024, na qual ele não se reelegeu.
Lopes é mais conhecido como empresário do ramo de restaurante e hospedagem do que como político, em São Borja. Em 2020 ele acabou usando da popularidade na cidade para se eleger. Tentou novamente em 2024 e ficou como suplente.
Em outubro, a PF já tinha identificado suposta interferência de uma facção criminosa nas eleições de Lopes. A apuração, em conjunto com o Ministério Público, constatou apoio material e financeiro de pessoas ligadas ao grupo criminoso ao candidato a vereador. Às vésperas das eleições de 5 de outubro foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão, além do afastamento de sigilo de dados dos suspeitos.
O MP move ação contra Lopes por abuso de poder econômico e captação ilícita de sufrágio (compra de voto). O político teria feito distribuição de material de construção, de próteses dentárias, de dinheiro e de cestas básicas em troca de votos. Teria usado também cabos eleitorais não declarados.
A representação do Ministério Público fala explicitamente em vínculo com a organização criminosa de atuação dominante na Fronteira Oeste. A investigação aponta que a quadrilha teria captado votos em troca de cestas básicas e financiamento ilícito de gastos de campanha do candidato Lopes, conforme mostrou reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI).
O promotor de Justiça Valmor Junior Cella Piazza pediu em dezembro a cassação da diplomação de Celso como suplente e sua inelegibilidade por oito anos, além de multa. O ex-vereador nega qualquer vínculo com criminosos. A Justiça Eleitoral ainda não se pronunciou sobre os pedidos.
Um dos indícios elencados pela PF contra Lopes, a participação numa festa de aniversário de familiar de um chefe de quadrilha, foi negado por ele à Justiça Eleitoral. O ex-vereador chegou a dizer que nunca esteve nos festejos e convenceu uma testemunha para, em um documento particular registrado em cartório, dizer que ele não foi visto nos festejos.
A PF contrapôs com uma foto de Lopes no local, mas por engano, a foto do amigo dele, que o acompanhava na festividade, foi indexada ao inquérito. Lopes e seu defensor, Guilherme Demoro, chegaram a elaborar uma declaração assinada pela testemunha e pedir à Justiça o fim da investigação policial. O advogado aproveitou para pedir à Justiça o fim do inquérito policial.
“Nunca se viu investigação tão parcial, errônea, cruel com uma pessoa que não foi vista no local”, declarou Demoro ao juiz do caso.
O advogado ainda apresentou à Justiça declaração de um homem que disse ser a pessoa retratada pela PF e que Celso Lopes não se encontrava na festa. Acontece que, posteriormente, os policiais federais encontraram vídeo que mostra Lopes no aniversário, inclusive em conversa com a testemunha que negou tê-lo visto.
Confrontada com a prova, a testemunha voltou atrás e admitiu aos policiais que Lopes esteve na festa e que ambos conversaram lá. O homem, revelou que assinou o documento a pedido do advogado Guilherme Demoro e que esse teria sido o próprio responsável pela confecção da declaração assinada e autenticada em cartório.
Com base no vídeo que mostra Lopes na festa, em diálogos extraídos do celular dele e no depoimento refeito pela testemunha (todos no sentido de que o ex-vereador participou do aniversário do familiar do chefe de quadrilha), a PF indiciou os três (o político, o advogado dele e a testemunha) por fraude processual e falsidade ideológica. Em relação aos supostos vínculos com o crime organizado, o inquérito da Polícia Federal ainda não foi concluído.
Contraponto
O que diz Celso Andrade Lopes:
A reportagem aguarda posicionamento dele. Na época em que teve a cassação pedida pelo Ministério Público por compra de votos, ele falou à reportagem: “Fico grato pela oportunidade de me defender, mas fui aconselhado pelos advogados a não me manifestar. Vamos nos defender”.
O que diz Guilherme Demoro:
Em depoimento no inquérito policial, o advogado diz que viu no inquérito foto de uma pessoa apontada como Celso Lopes, mas que não era ele. Aí procurou a testemunha que estava na festa para que assinasse documento dizendo que aquele da fotografia não era Celso Lopes. Ele nega que soubesse que seu cliente, o candidato a vereador, estivesse no aniversário.