Nesta semana, li uma reportagem do Giovani Grizotti em que uma cantora tradicionalista se apresentou vestindo uma roupa histórica da nossa indumentária gaúcha: o chiripá. Segundo a matéria, a artista buscava homenagear uma Miss Brasil de 1963, que, à época, também havia prestado tributo à cultura gaúcha utilizando o chiripá.
Entretanto, esse tema — o uso do chiripá por mulheres — tem gerado debates há muito tempo e merece uma análise cuidadosa. O cuidado se justifica tanto pelo respeito à representação histórica dessa peça quanto pela preservação da autenticidade da nossa indumentária. É preciso compreender que o chiripá não é apenas uma vestimenta antiga: ele simboliza o homem primitivo do pampa, o gaúcho em sua formação cultural e histórica.
De acordo com o Manual de Tradicionalismo Gaúcho, de Manoelito Carlos Savaris, a indumentária gaúcha divide-se em trajes históricos e trajes atuais. Dentro dos trajes históricos, o chiripá é classificado como um traje primitivo, utilizado até o período da Revolução Farroupilha. Não há uma data exata que delimite seu uso, pois registros mostram que o chiripá primitivo (saia) e o chiripá farroupilha (fralda ) coexistiram em determinado período, desdes os primórdios da ocupação portuguesa (1737) até o surgimento da bombacha (1875).
Vale destacar que o chiripá farroupilha é contemporâneo aos trajes do estancieiro e do charqueador, todos marcados por elementos masculinos que refletem o cotidiano do homem campeiro.
Quem não se recorda de Berenice Azambuja, em suas apresentações, utilizando o chiripá? E agora temos Lara Rossato, que também adota essa estética em suas performances. Não se trata aqui de uma crítica pessoal, mas de um alerta e reflexão. Embora o uso do chiripá por mulheres possa ter uma intenção cultural ou artística, é importante reconhecer que essa peça pertence, por essência e origem, à indumentária masculina.
Portanto, ao utilizá-lo, é fundamental ter consciência de que o chiripá representa o homem gaúcho desde seus primórdios, e seu uso deve respeitar essa simbologia. Certas representações, por mais bem-intencionadas que sejam, podem gerar interpretações distorcidas e influenciar negativamente o entendimento histórico das nossas tradições.
Isaac Carmo Cardozo é 1°Sargento da Brigada Militar, Bacharel em Direito pela Unilassale/Canoas, Especialista em Gestão Pública pela UFSM/Santa Maria e Mestre em Políticas Públicas pela Unipampa/São Borja. Escreveu o livro: Monitoramento de Políticas Públicas de Segurança – O Programa de Resistência às drogas e a violência (Proerd) no Município de São Borja. Tradicionalista, é Coordenador da Invernada Especial do Centro Nativista Boitatá. Historiador e pesquisador e apaixonado pela cultura do Rio Grande do Sul.
















