O “cocoricó” das aves e o canto imponente do galo há dois anos não eram ouvidos pelos corredores da Expointer, desde que focos de gripe aviária e da doença de Newcastle foram identificados no Rio Grande do Sul. O silêncio foi rompido e está sendo celebrado com festa nesta edição, marcando o retorno dos animais à feira.
Mais do que simples participação na mostra, a retomada da presença demonstra uma vitória do serviço sanitário estadual, que conseguiu conter a circulação dos vírus após uma série de protocolos adotados. A régua de cuidados, contudo, segue alta. E é visível aos visitantes do Parque Assis Brasil, em Esteio.
Logo na entrada do Pavilhão dos Pequenos Animais, onde as aves dividem espaço com exemplares de coelhos e chinchilas, cortinas plásticas isolam o espaço a fim de evitar a entrada de animais silvestres e outros bichos que possam ser ameaça sanitária. Nas janelas que cercam a área, telas metálicas foram instaladas e se encarregam da proteção.

Fiscal estadual agropecuária e chefe do Pavilhão das Aves e Pequenos Animais, Liege Araújo vê as medidas adotadas como um marco da Expointer neste ano. A liberação para as aves se deu após consenso entre a Secretaria da Agricultura (Seapi), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a Secretaria de Meio Ambiente do RS (Sema), que agiram juntas desde a identificação das doenças em solo gaúcho.
Foi feito um trabalho conjunto para se avaliar a viabilidade da exposição de aves e se entendeu que, com as devidas medidas de biosseguridade, seria possível participar. E as barreiras têm se mostrado bem eficientes.
LIEGE ARAÚJO
Fiscal estadual agropecuária
— Este retorno só é possível porque temos um sistema veterinário ágil e robusto. Sempre fizemos a mais e preferimos “pecar pelo excesso”. O resultado é a retomada com rapidez, tanto dos acordos comerciais quanto da participação em exposições — destaca a fiscal.
Desde a primeira ocorrência de gripe aviária no Estado, em aves silvestres na Reserva do Taim, em 2023, somente um foco do vírus foi detectado em produção comercial, na granja de Montenegro, já encerrado. A recuperação de status de livre da doença permitiu a retomada de alguns passos, entre eles a presença em feiras, iniciada na Expoleite e Fenasul.
A posição marcada na maior feira agropecuária da América Latina é de importância fundamental para a continuidade do trabalho realizado com as raças, diz o presidente da Associação Brasileira de Preservadores e Criadores de Aves de Raças Puras e Ornamentais (APCA), André Schmitz. É em feiras como a Expointer que os criadores exibem o que há de melhor em genética e trocam informações sobre os animais.
As exposições são o que motivam a trabalhar o ano inteiro nas raças puras. Estar aqui de novo é uma vitória. Fora a importância de ordem econômica. O julgamento (das raças e dos animais) serve de guia para melhores resultados na atividade do produtor.
ANDRÉ SCHMITZ
Presidente da Associação Brasileira de Preservadores e Criadores de Aves de Raças Puras e Ornamentais
A caminhada até a feira é como o preparo de um atleta. Para participar, todo expositor precisa ter criatório registrado no Ministério da Agricultura, atendendo exigências sanitárias e uma série de outros requisitos do cuidado com os animais. Perfiladas como se fosse dia de festa, as aves exibem penas lustrosas e crista bem cuidada. Entre as premiadas, as rosetas penduradas no entorno das gaiolas exibem o status de animal campeão. Uma honraria motivo de orgulho para os criadores.
O grande campeão
Estreante na Expointer e já com pinta de vencedor, o produtor Rafael Arenhardt, 40 anos, viajou 500 quilômetros de Cerro Largo até Esteio para expor suas aves. Dos 65 galináceos de sete raças levados ao parque, 25 venceram premiações. Entre eles, um galo vistoso de raça asiática, um autêntico langshan negro, eleito grande campeão.
— É tão gratificante. Demonstra que estamos no caminho certo da preservação das raças — diz o criador, abraçado ao galo premiado (este não tão faceiro enquanto posava para foto).

O som das aves desperta a curiosidade dos visitantes no pavilhão, especialmente as crianças, intrigadas com a aparência e o tamanho dos animais. Acompanhada da mãe, a médica Laura Rieck, 37 anos, aproveitou o turno livre para passear na feira com as crianças. Os pequenos de cinco e um ano de idade olhavam os bichos com curiosidade. Era a primeira vez que viam aves deste tamanho, contou a mãe.
A volta das aves à Expointer é com marcas de peso. São 381 galinhas e galos de 33 raças e 542 pássaros de quatro raças participantes. A presença do segmento este ano é 50% maior do que a de 2022, último ano em que os animais estiveram na feira.
Fonte: GZH